Efésios 3 é um daqueles textos que fazem meu coração parar por um instante e refletir sobre o imenso amor e sabedoria de Deus. É impossível ler esse capítulo e não se sentir parte de algo maior. Paulo nos lembra que a igreja não é apenas um grupo religioso, mas o projeto mais grandioso de Deus, onde judeus e gentios, pessoas tão diferentes, se tornam um só povo, unidos em Cristo. Aqui, somos convidados a compreender o que antes era um mistério: o plano eterno de Deus de reconciliar todas as coisas por meio de Jesus.
Qual é o contexto histórico e teológico de Efésios 3?
A carta aos Efésios foi escrita por Paulo por volta do ano 60 ou 61 d.C., enquanto ele estava preso em Roma, como lemos em Atos 28. Essa carta faz parte das chamadas “cartas da prisão”, que incluem também Filipenses, Colossenses e Filemom.
A cidade de Éfeso, onde os primeiros leitores dessa carta viviam, era um dos centros mais importantes do Império Romano. Famosa pelo majestoso templo da deusa Ártemis, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo, Éfeso respirava idolatria, magia e comércio. Era um ambiente hostil ao Evangelho, mas também um campo missionário fértil.
Meu sonho é que este site exista sem depender de anúncios.
Se o conteúdo tem abençoado sua vida,
você pode nos ajudar a tornar isso possível.
Contribua para manter o Jesus e a Bíblia no ar:
Paulo conhecia bem Éfeso. Passou cerca de três anos ali, pregando, discipulando e enfrentando perseguições, conforme vemos em Atos 19. A igreja naquela cidade era formada por judeus convertidos e, em grande parte, por gentios — pessoas que, antes, estavam longe das promessas de Deus.
Hendriksen explica que Efésios é uma das cartas mais profundas de Paulo sobre o propósito da igreja e a unidade dos crentes em Cristo (HENDRIKSEN, 1992). Ele destaca que o capítulo 3 marca uma transição, onde Paulo, depois de apresentar o mistério revelado, ora para que os crentes entendam a grandeza desse plano e vivam de acordo com ele.
Keener, por sua vez, observa que o tema do “mistério” era muito familiar para as pessoas daquele tempo, especialmente em seitas religiosas e grupos esotéricos. Mas aqui, Paulo revela que o verdadeiro mistério é acessível a todos, pois Deus o revelou abertamente por meio de Cristo (KEENER, 2017).
Como o texto de Efésios 3 se desenvolve?
1. O mistério revelado: a união dos povos (Efésios 3.1-13)
Paulo começa lembrando sua condição: “Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios” (Efésios 3.1). Ele estava preso não por crime, mas por causa da sua missão: anunciar o Evangelho aos gentios.
Ele fala do mistério que lhe foi revelado por Deus: “Que mediante o evangelho os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Efésios 3.6).
Na mentalidade judaica da época, essa ideia era quase impensável. Judeus e gentios, historicamente, eram separados por barreiras religiosas, culturais e sociais. Mas agora, em Cristo, essas barreiras caíram.
Hendriksen explica que esse mistério não significa algo obscuro ou inacessível, mas uma verdade antes oculta e agora revelada (HENDRIKSEN, 1992). Ele destaca que esse plano não foi algo improvisado por Deus, mas um propósito eterno.
Paulo reconhece sua pequenez ao dizer: “Embora eu seja o menor dos menores dentre todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3.8). Aqui, ele mostra que o chamado ministerial é um privilégio imerecido, fruto exclusivo da graça de Deus.
O apóstolo vai além. Ele afirma que “mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais” (Efésios 3.10). Em outras palavras, a própria existência da igreja — formada por judeus e gentios reconciliados — revela aos anjos e aos seres espirituais a incrível sabedoria de Deus.
Keener destaca que, no pensamento judeu antigo, os anjos observavam o plano de Deus na história. Aqui, Paulo afirma que a igreja é uma vitrine onde os anjos contemplam a graça e o poder de Deus se manifestando (KEENER, 2017).
Por isso, mesmo em meio ao sofrimento, Paulo encoraja os crentes: “Portanto, peço-lhes que não se desanimem por causa das minhas tribulações em seu favor, pois elas são uma glória para vocês” (Efésios 3.13). O sofrimento dele fazia parte do cumprimento do plano de Deus.
2. A oração de Paulo pela plenitude espiritual (Efésios 3.14-19)
Em seguida, Paulo se ajoelha e ora pelos crentes. Ele diz: “Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família nos céus e na terra” (Efésios 3.14-15).
Hendriksen observa que o termo “família” aqui aponta para a grande unidade do povo de Deus, incluindo tanto os que estão na terra quanto os que já estão no céu (HENDRIKSEN, 1992).
A oração de Paulo tem três pedidos principais:
a) Fortalecimento interior: “Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito” (Efésios 3.16). Sabemos o quanto é fácil fraquejar diante das pressões da vida. Precisamos desse poder interior para permanecer firmes.
b) Cristo habitando no coração: “Para que Cristo habite em seus corações mediante a fé” (Efésios 3.17). Não se trata de uma visita ocasional, mas de Cristo fazendo morada permanente em nós, guiando cada área da nossa vida.
c) Compreender o amor de Cristo: “E oro para que vocês, arraigados e alicerçados em amor, possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento” (Efésios 3.17-19).
Keener destaca que Paulo não está falando de uma compreensão apenas intelectual, mas de uma experiência profunda do amor de Cristo, algo que transforma o coração e a mente (KEENER, 2017).
O clímax dessa oração é o pedido para que os crentes sejam “cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.19). Um convite a experimentar a presença de Deus de maneira crescente e contínua.
3. A doxologia: Deus pode fazer muito mais (Efésios 3.20-21)
Paulo encerra com um louvor que enche o coração de esperança: “Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!” (Efésios 3.20-21).
Deus é capaz de fazer muito mais do que conseguimos imaginar. Isso me lembra que, mesmo quando oro de forma limitada, Deus pode ir além. Mesmo quando minhas forças acabam, o poder dele continua operando.
Hendriksen explica que o poder de Deus não é abstrato. Ele já está agindo em nós, sustentando, transformando e cumprindo o seu plano eterno (HENDRIKSEN, 1992).
Que conexões proféticas encontramos em Efésios 3?
Efésios 3 se conecta diretamente às promessas feitas por Deus ao longo das Escrituras.
O mistério revelado — a união de judeus e gentios em um só povo — já havia sido sugerido nos profetas, como em Isaías 49.6, onde Deus promete que o Messias seria “luz para os gentios”.
Em Amós 9.11-12, Deus fala da restauração do tabernáculo de Davi e da inclusão dos povos gentios. Paulo, aqui, mostra que isso se cumpre plenamente na igreja.
A expressão “infinita sabedoria de Deus” (Efésios 3.10) ecoa textos como Isaías 55.8-9, que exaltam a grandeza dos pensamentos e planos de Deus, muito além da nossa compreensão.
O acesso livre a Deus, mencionado em Efésios 3.12, é o cumprimento da promessa de um novo e vivo caminho aberto pelo Messias, como vemos em Hebreus 10.19-22.
O que Efésios 3 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me lembra que faço parte de algo muito maior do que eu mesmo. Não sou um espectador. Faço parte da igreja — o grande projeto de Deus.
Aprendo que:
- Deus tem um plano eterno e perfeito. Nada do que acontece está fora do controle dele.
- A igreja é o lugar onde Deus revela sua sabedoria e graça ao mundo e até aos anjos. Quando vivo em comunhão, estou mostrando ao mundo quem Deus é.
- Mesmo sendo imperfeito, Deus me usa para participar desse plano. Assim como Paulo, fui chamado pela graça.
- Cristo habita em mim. Ele não me abandona nem se afasta. Sua presença é constante.
- O amor de Cristo é algo que preciso buscar conhecer mais a cada dia. Nunca esgotarei esse amor.
- Deus pode fazer muito mais do que imagino. Mesmo quando minhas orações parecem limitadas, Ele surpreende.
- Não preciso temer as dificuldades. Até as tribulações podem cooperar para o bem e para o cumprimento do plano de Deus.
Efésios 3 me convida a confiar, a me entregar mais a Cristo e a viver com a certeza de que faço parte da família de Deus, aqui e na eternidade.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses. Tradução: Valter Graciano Martins. 3. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1992.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.