Êxodo 37 é um capítulo que me impressiona pela precisão e reverência com que a construção do tabernáculo é tratada. A cada detalhe, percebemos que nada foi deixado ao acaso. Tudo foi feito conforme o modelo divino entregue a Moisés. Ao ler esse texto, entendo que a adoração não é construída a partir das nossas preferências, mas das instruções de Deus.
Qual é o contexto histórico e teológico de Êxodo 37?
Esse capítulo faz parte da seção final do livro de Êxodo, que trata da execução prática das instruções dadas por Deus no monte Sinai. Desde Êxodo 25, o Senhor havia revelado os padrões detalhados para a construção do tabernáculo, lugar onde Ele habitaria no meio do povo.
Agora, com a mediação restaurada após o pecado do bezerro de ouro (Êxodo 32), Bezalel, capacitado pelo Espírito de Deus (Êxodo 31.1–5), lidera a confecção dos móveis sagrados. Êxodo 37 descreve a fabricação da arca da aliança, do propiciatório, da mesa dos pães, do candelabro, do altar de incenso e da preparação do óleo da unção e do incenso sagrado.
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Victor P. Hamilton observa que esse capítulo mostra o povo obedecendo exatamente às instruções anteriores, com fidelidade ao modelo original: “O padrão dado por Deus não foi apenas uma sugestão estética, mas uma exigência teológica” (HAMILTON, 2017, p. 842).
Isso revela um princípio espiritual profundo: Deus deseja ser adorado de acordo com Sua santidade, e não conforme nossas preferências humanas. O tabernáculo não era um produto da criatividade dos israelitas, mas uma resposta reverente à presença divina.
Como o texto de Êxodo 37 se desenvolve?
1. Como foi feita a arca da aliança? (Êxodo 37.1–5)
“Bezalel fez a arca com madeira de acácia, com um metro e dez centímetros de comprimento, setenta centímetros de largura e setenta centímetros de altura” (Êxodo 37.1).
Essa arca simbolizava o trono de Deus na terra. A madeira de acácia, resistente e durável, representava a humanidade de Cristo, enquanto o ouro puro, seu revestimento interior e exterior, indicava Sua divindade. A arca era levada com varas de madeira revestidas de ouro, para que não fosse tocada diretamente, o que nos ensina que a santidade de Deus exige reverência.
2. O que representa o propiciatório e os querubins? (Êxodo 37.6–9)
“Fez a tampa de ouro puro com um metro e dez centímetros de comprimento por setenta centímetros de largura” (Êxodo 37.6).
Essa tampa da arca, chamada de propiciatório, era onde o sangue do sacrifício era aspergido no Dia da Expiação (Levítico 16). Era o lugar onde a misericórdia de Deus encontrava a Sua justiça. Os querubins com asas estendidas voltadas para o propiciatório representam os guardiões da santidade divina.
Hamilton destaca que “a face dos querubins voltada para o propiciatório enfatiza a centralidade da presença de Deus na vida de Israel” (HAMILTON, 2017, p. 843). Esse é o coração do tabernáculo: Deus entre o Seu povo.
3. Para que servia a mesa da proposição? (Êxodo 37.10–16)
A mesa também era feita de madeira de acácia, coberta de ouro puro. Nela ficavam os pães da presença, renovados semanalmente. Esses pães simbolizavam a constante provisão de Deus para Israel, e o fato de que Ele partilha comunhão com o Seu povo.
“Fez os utensílios para a mesa: seus pratos e recipientes para incenso, tigelas e bacias… de ouro puro” (Êxodo 37.16). Nada era comum no serviço do Senhor. Tudo expressava a santidade do ambiente.
4. Qual o significado do candelabro? (Êxodo 37.17–24)
O candelabro de sete hastes era feito de ouro batido, com detalhes em forma de flor de amêndoa — a primeira planta a florescer em Israel, um símbolo de vigilância e vida.
“Seis braços saíam do candelabro: três de um lado e três do outro” (Êxodo 37.18). A luz do candelabro iluminava o lugar santo. Ele representa a revelação de Deus, a presença do Espírito e a missão de Israel como luz para as nações — um tema que se estende até Mateus 5.14–16.
Hamilton ressalta que “o candelabro não é apenas iluminação funcional, mas símbolo da presença contínua e vigilante de Deus” (HAMILTON, 2017, p. 843).
5. Qual era o propósito do altar de incenso? (Êxodo 37.25–28)
Feito também de madeira de acácia e coberto de ouro, esse altar era usado para queimar incenso diariamente. O aroma que subia representava as orações do povo diante de Deus (cf. Apocalipse 5.8).
“Fez dois anéis de ouro… como suporte para as varas” (Êxodo 37.27). Mais uma vez, a portabilidade da peça destaca a natureza peregrina da fé de Israel — o Deus que caminha com Seu povo.
6. Qual a importância do óleo e do incenso? (Êxodo 37.29)
“Fez o óleo da santa unção e o incenso puro perfumado, obra de um perfumador” (Êxodo 37.29).
O óleo separava os objetos sagrados para o serviço divino. O incenso, preparado com fórmulas específicas, era exclusivo para uso no tabernáculo. Isso revela o princípio de consagração: o que é de Deus não deve ser usado de maneira comum.
Quais conexões proféticas encontramos em Êxodo 37?
Esse capítulo possui fortes conexões com a obra de Cristo e com a adoração no Novo Testamento:
- A arca da aliança aponta para Jesus como o cumprimento da presença divina entre nós (João 1.14). Ele é o lugar onde encontramos a misericórdia de Deus — o novo propiciatório (cf. Romanos 3.25).
- O propiciatório é reinterpretado em Hebreus como símbolo da mediação de Cristo, que não oferece sangue de animais, mas o Seu próprio (Hebreus 9.11–12).
- A mesa dos pães lembra a ceia do Senhor, onde Cristo se oferece como pão da vida (João 6.35).
- O candelabro se cumpre em Jesus, “a luz do mundo” (João 8.12), e na igreja, que reflete essa luz no mundo (Filipenses 2.15).
- O altar de incenso prefigura a intercessão contínua de Cristo por nós (Hebreus 7.25).
- O óleo da unção e o incenso falam da unção do Espírito e da adoração verdadeira, em espírito e em verdade (João 4.23–24).
Cada elemento do tabernáculo é uma sombra, uma antecipação do que haveria de vir em Cristo — o verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens (Apocalipse 21).
O que Êxodo 37 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me lembra que Deus se importa com os detalhes. Nada é pequeno demais quando se trata de adoração. A maneira como construímos nossa vida espiritual precisa ser moldada pelo padrão dEle, não por nossas preferências.
Aprendo também que a beleza do serviço a Deus está na obediência. Bezalel não inventou nada novo, apenas executou fielmente o que foi mandado. Às vezes, queremos inovar tanto que esquecemos de obedecer.
Outra lição é sobre santidade. Tudo nesse capítulo foi separado, consagrado, revestido de ouro — símbolo de pureza e valor. Quando me aproximo de Deus, sou chamado a viver de modo distinto, separado para Ele.
Além disso, vejo como Deus usa pessoas capacitadas por Seu Espírito para cumprir Sua vontade. Bezalel recebeu sabedoria, habilidade e inspiração diretamente do Senhor (Êxodo 31.3). Isso me encoraja a buscar também essa capacitação divina para os meus próprios chamados.
Por fim, Êxodo 37 me ensina sobre Cristo. Cada móvel, cada símbolo, cada detalhe aponta para Ele. Quando olho para o tabernáculo, vejo sombras que ganham corpo e cor em Jesus. Ele é o centro da adoração, o lugar de encontro entre Deus e os homens, o caminho para a comunhão plena.
Referências
- HAMILTON, Victor P. Êxodo. Tradução: João Artur dos Santos. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- HANNAH, John D. Êxodo. In: WALVOORD, John F.; ZUCK, Roy B. (Ed.). Comentário Bíblico do Conhecimento Bíblico: Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1992.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.