João 21 encerra o Evangelho com um dos encontros mais profundos entre Jesus e seus discípulos. Esse capítulo, longe de ser um apêndice estranho, como alguns estudiosos tentaram afirmar, é o desfecho perfeito para o drama que João constrói ao longo do livro. Aqui, Jesus não apenas aparece ressurreto, mas restaura, comissiona e revela o propósito final para a vida de Pedro. Ao ler esse texto, eu percebo a graça restauradora de Cristo, a paciência com nossas fraquezas e o chamado contínuo para segui-lo.
Qual é o contexto histórico e teológico de João 21?
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O Evangelho de João foi escrito entre os anos 85 e 95 d.C., quando a Igreja já havia se espalhado pelo mundo greco-romano e enfrentava perseguições, especialmente sob o governo de Domiciano. João, o apóstolo conhecido como “o discípulo amado”, escreve seu Evangelho com o propósito claro de provar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que crendo nele, temos vida (João 20.31).
Sobre o capítulo 21, Hernandes Dias Lopes afirma que “esse texto coroa o Evangelho de João, pois registra a restauração de Pedro, esclarece o futuro do discípulo amado e reforça o chamado ao discipulado” (LOPES, 2015, p. 503).
Alguns críticos sugerem que João 20 seria o final natural do Evangelho e que o capítulo 21 foi um acréscimo posterior. No entanto, tanto o estilo quanto o conteúdo são perfeitamente coerentes com o restante do Evangelho. Além disso, sem esse capítulo, ficaria um vazio em relação ao futuro de Pedro e ao rumor sobre João (João 21.23).
Teologicamente, o capítulo destaca três verdades: o Cristo ressurreto continua presente; ele restaura os caídos; e ele comissiona os seus para o serviço. O cenário é o mar de Tiberíades, na Galileia, o mesmo lugar onde muitos daqueles discípulos haviam sido chamados pela primeira vez para seguir Jesus.
Como o texto de João 21 se desenvolve?
Uma pescaria frustrada (João 21.1–3)
Após as aparições em Jerusalém, os discípulos voltam à Galileia, conforme a orientação do anjo (Marcos 16.7). Ali, sete deles, liderados por Pedro, decidem pescar. Eu entendo essa decisão como reflexo de um coração inquieto e, talvez, desanimado. Como aponta J. C. Ryle, “eles voltaram ao ofício antigo, talvez em confusão, talvez em necessidade, mas certamente em fraqueza de fé” (RYLE, 2018, p. 388).
A pesca se revelou um fracasso. “Naquela noite, não pegaram nada” (João 21.3). Isso me lembra que, quando tentamos conduzir a vida ou o ministério baseados apenas em esforço humano, o resultado é vazio e frustração.
A revelação graciosa de Jesus (João 21.4–14)
Ao amanhecer, Jesus aparece na praia, mas eles não o reconhecem. Ele os chama de “filhos”, termo afetuoso que revela sua graça, mesmo diante das falhas dos discípulos.
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Jesus ordena que lancem a rede à direita do barco. Quando obedecem, a rede se enche de peixes. João, com sua sensibilidade espiritual, reconhece: “É o Senhor!” (João 21.7). Pedro, impulsivo como sempre, lança-se ao mar para ir ao encontro de Jesus.
Essa cena me lembra da primeira pesca milagrosa em Lucas 5, quando Jesus chamou Pedro para ser pescador de homens. Agora, com ternura, Jesus o prepara para algo maior: ser pastor de ovelhas.
Ao chegar à praia, encontram pão e peixe sobre brasas. Jesus os alimenta antes de tratar das questões espirituais. Hernandes Dias Lopes destaca que “Jesus cuida do corpo para, então, restaurar a alma” (LOPES, 2015, p. 508). Eu aprendo aqui que o cuidado integral faz parte do ministério de Cristo.
A restauração de Pedro (João 21.15–17)
Após a refeição, Jesus dirige-se a Pedro de forma pública e amorosa. Por três vezes pergunta: “Você me ama?”, uma para cada negação de Pedro. A graça de Jesus é tão abundante que transforma derrota em restauração.
O diálogo, carregado de nuances no grego, revela a profundidade desse momento. Jesus usa inicialmente o termo agapao (amor sacrificial), enquanto Pedro responde com phileo (amor de amigo). Na terceira vez, Jesus desce ao nível de Pedro, usando também phileo. Isso me mostra que Cristo nos encontra onde estamos, mesmo que nossa fé ainda seja vacilante.
Cada resposta de Pedro é seguida de uma comissão: “Cuide dos meus cordeiros”, “Pastoreie as minhas ovelhas”, “Cuide das minhas ovelhas” (João 21.15-17). Como diz J. C. Ryle, “o verdadeiro amor a Cristo se manifesta no cuidado com as almas” (RYLE, 2018, p. 395).
O futuro revelado (João 21.18–23)
Jesus revela a Pedro que ele morreria de forma que glorificaria a Deus. A tradição diz que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em Roma, como mártir, cumprindo essa profecia.
Quando Pedro pergunta sobre o futuro de João, Jesus responde: “Se eu quiser que ele permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa? Siga-me você” (João 21.22). Aprendo aqui que devo me concentrar no meu chamado, sem comparações ou distrações.
O testemunho final de João (João 21.24–25)
João encerra o Evangelho reafirmando sua autoria e a veracidade do que escreveu. E, com uma hipérbole poética, diz que se tudo o que Jesus fez fosse registrado, “nem no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros” (João 21.25).
Isso me lembra que, por mais que conheçamos Cristo, sempre haverá mais a descobrir. Seu amor, poder e glória são inesgotáveis.
Que profecias se cumprem em João 21?
O capítulo cumpre e reforça diversas profecias e promessas de Jesus:
- A pesca milagrosa remete à promessa de que os discípulos seriam “pescadores de homens” (Lucas 5.10). A abundância de peixes simboliza o sucesso missionário que viria após a restauração e o Pentecostes.
- A restauração de Pedro cumpre a promessa de Lucas 22.32, quando Jesus disse a Pedro: “Eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E, quando você se converter, fortaleça os seus irmãos”.
- A profecia sobre a morte de Pedro antecipa o martírio que, conforme a tradição e registros como os de Eusébio, aconteceu em Roma sob Nero.
- A referência ao retorno de Jesus aponta para a esperança escatológica, reafirmada em Apocalipse 21, da vinda gloriosa de Cristo.
O que João 21 me ensina para a vida hoje?
Ao ler João 21, eu sou confrontado com o amor paciente e restaurador de Jesus. Pedro havia falhado vergonhosamente, mas o Senhor não o rejeitou. Ele o restaurou publicamente e o confiou ao cuidado das ovelhas.
Isso me lembra que, mesmo após meus erros, há perdão e recomeço em Cristo. Ninguém está tão caído que não possa ser restaurado, se houver arrependimento e amor sincero por Jesus.
Aprendo também que o serviço no Reino exige amor. Antes de confiar o rebanho a Pedro, Jesus perguntou: “Você me ama?”. A base do ministério cristão não é talento, eloquência ou coragem, mas amor genuíno a Cristo.
Outra lição prática é o chamado pessoal ao discipulado. Jesus disse a Pedro: “Siga-me”. Ele diz o mesmo a mim hoje. Não importa o passado, nem as comparações com outros irmãos. O convite é claro e individual.
Além disso, percebo o cuidado integral de Cristo. Ele se preocupa com o pão e o peixe, com o frio e o cansaço, tanto quanto com o espírito. Isso me desafia a também cuidar das necessidades físicas e emocionais das pessoas ao meu redor.
Por fim, sou lembrado de que o Senhor conhece meu futuro. Nada me escapa do seu controle. As lutas e provações que virão fazem parte do caminho que glorifica a Deus.
Como João 21 me conecta ao restante das Escrituras?
Este capítulo me leva a revisitar diversos textos bíblicos:
- A primeira pesca milagrosa em Lucas 5, onde Pedro foi chamado.
- A negação de Pedro em João 18, que encontra aqui sua restauração.
- A promessa do martírio em 1 Pedro 4, escrita pelo próprio Pedro, já consciente de seu chamado ao sofrimento.
- A esperança escatológica de Apocalipse 21, conectada à menção do retorno de Jesus.
O texto também dialoga com as palavras de Jesus em Mateus 20.26-28, sobre grandeza no Reino sendo medida pelo serviço.
Referências
- LOPES, Hernandes Dias. João: As Glórias do Filho de Deus. São Paulo: Hagnos, 2015.
- RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.