João 5 é um dos capítulos mais reveladores e ao mesmo tempo polêmicos do Evangelho de João. Aqui, Jesus realiza um milagre marcante, revela sua autoridade divina e, ao mesmo tempo, enfrenta forte oposição dos líderes religiosos. É nesse episódio que Cristo deixa clara sua identidade como o Filho de Deus e o único capaz de conceder vida eterna.
Qual é o contexto histórico e teológico de João 5?
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O Evangelho de João foi escrito no final do primeiro século, provavelmente entre os anos 85 e 95 d.C. Seu autor é o apóstolo João, um dos doze discípulos de Jesus, conhecido como o discípulo amado. Enquanto os outros evangelhos — Mateus, Marcos e Lucas — já circulavam, João escreve com o objetivo de apresentar Jesus como o Filho de Deus e conduzir seus leitores à fé salvadora.
No capítulo 5, o cenário é Jerusalém, durante uma das festas religiosas dos judeus. Jesus se dirige ao tanque de Betesda, um local conhecido como Casa de Misericórdia, onde uma multidão de enfermos se reunia, esperando um milagre.
Hernandes Dias Lopes destaca que “esse milagre registrado em João 5 não foi apenas público, mas também realizado num sábado, despertando a oposição dos líderes religiosos” (LOPES, 2015, p. 153).
Essa oposição se intensifica quando Jesus afirma sua igualdade com o Pai, o que para os líderes judeus era considerado blasfêmia. É importante lembrar que João escreve em uma época em que o cristianismo já se espalhava pelo Império Romano, mas também enfrentava perseguições e heresias, como o gnosticismo, que negava a encarnação de Cristo. Assim como vimos em João 1, o apóstolo reforça aqui a divindade e a missão salvadora de Jesus.
Como o milagre no tanque de Betesda revela o poder de Jesus? (João 5.1–16)
O texto inicia afirmando:
“Algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos judeus” (João 5.1, NVI).
Enquanto muitos celebravam, Jesus se dirige ao tanque de Betesda, um local de sofrimento. Havia ali um paralítico, enfermo há trinta e oito anos. Ele representa a miséria humana, consequência direta do pecado no mundo, como vimos também em Gênesis 3.
J. C. Ryle observa que “esse homem, esquecido e desprezado entre a multidão, não deixou de ser observado pelos olhos de Cristo, aquele que vê todas as coisas” (RYLE, 2018, p. 91).
Jesus se aproxima, com compaixão e autoridade, e pergunta:
“Você quer ser curado?” (João 5.6, NVI).
O paralítico expressa sua solidão e desesperança: não havia ninguém para ajudá-lo. Mas o Senhor, com uma palavra, transforma sua vida:
“Levante-se! Pegue a sua maca e ande” (João 5.8, NVI).
O milagre foi imediato e completo. Hernandes Dias Lopes ressalta que “esse milagre é um ato de soberana graça, pois de todos os enfermos presentes, Jesus escolheu esse homem” (LOPES, 2015, p. 155).
Assim como no caso da mulher samaritana em João 4, Jesus vai ao encontro de quem sofre, mesmo quando a pessoa não demonstra fé ou iniciativa. Ele conhece a condição do coração humano e age por graça.
Por que os líderes religiosos se opuseram a Jesus? (João 5.16–23)
O milagre aconteceu num sábado, o que, segundo a tradição dos líderes judeus, configurava violação da lei. Eles questionaram o paralítico e, ao descobrir que Jesus era o responsável, passaram a persegui-lo.
Jesus responde:
“Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (João 5.17, NVI).
Essa declaração vai muito além da cura física. Jesus está se apresentando como igual ao Pai, com a mesma autoridade e poder. Isso acendeu ainda mais a indignação dos judeus.
J. C. Ryle explica: “O Senhor declarou sua unidade com Deus, o Pai. Em realizações, propósito e vontade, o Pai e o Filho estão unidos — duas pessoas, mas um só Deus” (RYLE, 2018, p. 94).
Aqui já vemos o tema que se desenvolverá até o final do Evangelho: a identidade divina de Jesus e a rejeição que ele sofreria por causa disso, algo que João reforça também em João 10.
Jesus revela que tudo o que o Pai faz, o Filho também faz. Ele possui o mesmo poder para dar vida, para julgar e para ser honrado como o próprio Deus.
O que Jesus revela sobre sua autoridade e missão? (João 5.24–29)
Essa parte do discurso é uma das mais profundas de todo o Evangelho. Jesus diz:
“Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (João 5.24, NVI).
Aqui Jesus afirma que a vida eterna não é uma esperança futura, mas uma realidade presente para quem crê. Assim como vimos em João 3, a salvação começa agora, pela fé.
Ele também fala da sua autoridade para dar vida aos mortos espirituais:
“Está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e aqueles que a ouvirem, viverão” (João 5.25, NVI).
Essa vida espiritual se manifesta hoje, em cada conversão verdadeira. Hernandes Dias Lopes comenta que “o maior milagre não é físico, mas espiritual: a ressurreição das almas mortas em seus pecados” (LOPES, 2015, p. 167).
Jesus ainda anuncia a ressurreição final:
“Todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão” (João 5.28, NVI).
Essa é a promessa da ressurreição corporal, que também aparece claramente em 1 Coríntios 15.
Quais testemunhos confirmam que Jesus é o Filho de Deus? (João 5.30–47)
Jesus não apenas faz afirmações sobre si mesmo. Ele apresenta testemunhos que confirmam sua identidade:
- O testemunho do Pai – Deus confirma sua missão, como ocorreu no batismo (João 1.32-34) e na transfiguração.
- O testemunho de João Batista – João apontou Jesus como o Cordeiro de Deus, como lemos em João 1.
- O testemunho das obras – Os milagres de Jesus provam que ele veio de Deus, como fica claro também em João 9, com a cura do cego de nascença.
- O testemunho das Escrituras – Todo o Antigo Testamento aponta para ele, desde Moisés até os profetas.
J. C. Ryle reforça que “toda a Bíblia tem o propósito de nos ensinar a respeito de Cristo, não apenas os evangelhos, mas a Lei, os Salmos e os Profetas” (RYLE, 2018, p. 101).
Mesmo com tantas evidências, os líderes judeus rejeitam Jesus por orgulho e incredulidade. Jesus denuncia que eles buscam a glória dos homens e não a que vem de Deus.
Que profecias se cumprem em João 5?
Diversas promessas do Antigo Testamento se cumprem aqui:
- O profeta semelhante a Moisés (Deuteronômio 18.15) — Jesus é aquele de quem Moisés falou.
- O poder do Messias para curar os oprimidos (Isaías 35.5-6) — manifestado na cura do paralítico.
- A expectativa do Juiz e Rei prometido (Daniel 7.13-14) — Jesus declara ter recebido toda autoridade para julgar e ressuscitar os mortos.
Além disso, o discurso de Jesus antecipa o ensino sobre a ressurreição e o juízo final, que se completará na sua segunda vinda, como vemos em Apocalipse 20.
O que João 5 me ensina para a vida hoje?
João 5 me confronta com verdades práticas e profundas.
Primeiro, me lembra que Jesus vê minha dor. Assim como o paralítico no tanque de Betesda, posso me sentir esquecido, preso a limitações ou feridas do passado. Mas Cristo me vê e tem poder para me restaurar.
Esse texto também me ensina que a vida eterna começa agora. Se eu ouço a Palavra de Jesus e creio, já passei da morte para a vida. Não preciso viver com medo ou insegurança espiritual.
Além disso, sou lembrado de que a incredulidade não é apenas uma questão de argumentos, mas de coração. Se busco a aprovação das pessoas mais do que a de Deus, fecho meu coração para a fé.
João 5 também me convida a examinar as Escrituras com atenção, pois nelas encontro Cristo, assim como fizemos ao estudar Isaías 53, onde o Messias sofredor é claramente anunciado.
Por fim, o texto me desafia a honrar o Filho, pois quem não honra o Filho, não honra o Pai. A fé em Cristo é o único caminho para a vida e para o Pai.
Referências
- LOPES, Hernandes Dias. João: As Glórias do Filho de Deus. São Paulo: Hagnos, 2015.
- RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.