Romanos 7 é um dos textos mais profundos e, ao mesmo tempo, mais difíceis de Paulo. Quando leio esse capítulo, percebo o quanto o ser humano é incapaz de vencer o pecado com esforço próprio. Paulo desnuda a alma humana e mostra a realidade da luta interior que todo crente conhece muito bem. Mais do que uma tese teológica, ele nos apresenta aqui a experiência dramática da tentativa frustrada de ser santo pela força da lei.
Qual é o contexto histórico e teológico de Romanos 7?
A carta aos Romanos foi escrita por Paulo por volta do ano 57 d.C., provavelmente na cidade de Corinto, durante sua terceira viagem missionária (Atos 20.2-3) (KEENER, 2017). Roma era o centro político e cultural do império, com uma população diversa e marcada por fortes contrastes religiosos e morais.
Entre os cristãos em Roma havia tanto judeus quanto gentios. Os judeus convertidos, acostumados ao peso e à tradição da Lei de Moisés, enfrentavam o desafio de entender o papel da lei depois da obra de Cristo. Já os gentios, alheios à Lei, precisavam compreender o valor moral e espiritual da justiça de Deus.
Keener (2017) destaca que muitos judeus da época acreditavam que, ao se submeterem à Lei, conquistavam mérito diante de Deus. Entretanto, Paulo rompe com esse entendimento ao afirmar que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado e que ninguém se justifica por obras da lei, mas apenas pela fé.
O capítulo 7, em especial, aprofunda essa discussão. Hernandes Dias Lopes (2010) explica que, depois de ensinar que o crente morreu para o pecado (capítulo 6), Paulo mostra agora que ele também morreu para a lei, ou seja, não está mais sob o jugo opressor da tentativa de se salvar pelas obras.
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Como o texto de Romanos 7 se desenvolve?
1. Estamos mortos para a lei e livres dela (Romanos 7.1-6)
Paulo inicia o capítulo com uma analogia simples, mas profunda: “A lei tem autoridade sobre alguém apenas enquanto ele vive” (Romanos 7.1). Ele ilustra isso usando o casamento: a mulher casada está vinculada ao marido pela lei enquanto ele vive; se ele morre, ela está livre para se casar novamente (Romanos 7.2-3).
Da mesma forma, nós morremos para a lei por meio do corpo de Cristo (Romanos 7.4). Ao nos identificarmos com a morte de Cristo, estamos livres da condenação da lei e agora pertencemos a outro: a Jesus, o ressuscitado.
Hernandes Dias Lopes (2010) explica que esse “novo casamento” com Cristo produz frutos para Deus. Antes, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas despertadas pela lei nos levavam à morte. Agora, libertos da lei, servimos a Deus de forma nova, guiados pelo Espírito e não pela letra da lei (Romanos 7.5-6).
Essa comparação deixa claro: a lei não é ruim, mas o homem pecador é incapaz de cumpri-la. A libertação da lei não é um convite ao pecado, mas à verdadeira obediência, que só acontece pela ação do Espírito.
2. A lei revela o pecado, mas não o resolve (Romanos 7.7-13)
Ao ler esse trecho, eu entendo que a lei tem um papel fundamental: ela revela o que é pecado, mas não pode libertar o homem do pecado. Paulo diz: “Eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei” (Romanos 7.7).
Ele usa o exemplo do décimo mandamento: “Não cobiçarás”. Esse mandamento expõe algo interno e invisível — o desejo do coração. Isso revela a profundidade da lei de Deus, que vai além das ações e alcança as intenções.
Keener (2017) destaca que, ao proibir a cobiça, a lei expõe o pecado interior e, paradoxalmente, desperta ainda mais o desejo pecaminoso no ser humano. Isso acontece porque o pecado é tão maligno que usa até mesmo a lei, que é boa, como trampolim para nos derrubar (Romanos 7.8-11).
Assim, Paulo afirma: “A lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom” (Romanos 7.12). O problema não está na lei, mas em nós. O pecado é tão terrível que se aproveita de algo bom (a lei) para nos matar espiritualmente.
Hernandes Dias Lopes (2010) explica que o pecado é maligníssimo. Ele nos engana, promete prazer e liberdade, mas entrega morte e escravidão. A lei funciona como um espelho que revela nossa sujeira, mas não pode limpar nossa alma.
3. A luta interior do crente (Romanos 7.14-25)
Essa é a parte mais conhecida e, ao mesmo tempo, mais polêmica do capítulo. Quando leio esse trecho, sinto o peso do conflito que todos nós experimentamos entre o querer fazer o bem e a incapacidade prática de realizá-lo.
Paulo diz: “Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado” (Romanos 7.14). Aqui ele não está dizendo que não é convertido, mas reconhecendo a fraqueza da sua natureza humana.
Keener (2017) destaca que essa linguagem dramática reflete o estilo retórico da época, mas ao mesmo tempo revela a experiência real de Paulo e dos cristãos. A luta entre a razão e as paixões, ou entre o Espírito e a carne, era bem conhecida tanto entre filósofos quanto entre judeus piedosos.
Paulo descreve sua frustração: “Não faço o que desejo, mas o que odeio” (Romanos 7.15). Ele reconhece que o pecado habita nele e que, por isso, apesar do desejo de obedecer a Deus, acaba cometendo o mal que não quer.
Hernandes Dias Lopes (2010) reforça que só um crente, regenerado, pode dizer: “No íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus” (Romanos 7.22). O não convertido não ama a lei de Deus nem lamenta sua incapacidade de cumpri-la.
Esse conflito mostra a realidade da vida cristã: fomos libertos do domínio do pecado, mas ainda carregamos a presença do pecado em nossa carne. Essa tensão continuará até o dia da glorificação, quando seremos completamente livres do pecado.
Paulo termina com um clamor sincero: “Miserável homem que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” (Romanos 7.24). E logo responde com esperança: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Romanos 7.25).
Em Cristo está a vitória. A lei revela o problema, mas só a graça de Cristo oferece a solução.
Que conexões proféticas encontramos em Romanos 7?
Romanos 7 ecoa a antiga promessa de Deus de que um dia Ele enviaria o Espírito para capacitar o homem a obedecer de coração. O profeta Ezequiel já havia anunciado: “Darei a vocês um novo coração e porei um novo espírito em vocês” (Ezequiel 36.26-27).
Keener (2017) lembra que os judeus criavam que o pleno poder do Espírito só retornaria com o Messias. Em Cristo, isso se cumpre. Agora, o crente não vive mais sob o jugo da lei escrita em tábuas de pedra, mas guiado pelo Espírito que habita no coração.
Além disso, o conflito descrito por Paulo remete à promessa futura da glorificação. Hoje, lutamos contra o pecado, mas um dia, quando Cristo voltar, seremos libertos completamente do corpo da morte (Filipenses 3.20-21).
O que Romanos 7 me ensina para a vida hoje?
Ao ler Romanos 7, eu aprendo que a vida cristã é marcada por um conflito real e diário. Ser salvo não significa estar livre de tentações ou falhas. Pelo contrário, quanto mais conhecemos a Deus, mais percebemos nossa fraqueza e a profundidade do nosso pecado.
Aprendo que:
- A lei revela o pecado, mas não salva.
- Tentar ser santo apenas pela obediência externa é inútil.
- Existe uma luta constante entre o querer fazer o bem e a incapacidade da carne.
- Só pela união com Cristo e pelo poder do Espírito podemos vencer o pecado.
- Não devemos desanimar com nossas quedas, mas olhar para Cristo, nosso libertador.
Essa verdade me traz consolo. Quando me sinto frustrado com minhas falhas, lembro que essa luta é parte do processo. E, mais importante, que a vitória final é garantida em Cristo.
Como Romanos 7 me conecta ao restante das Escrituras?
Romanos 7 se encaixa perfeitamente no panorama bíblico. Ele explica por que a Lei de Moisés não foi suficiente para salvar o homem e prepara o caminho para a mensagem de vitória em Cristo, que será aprofundada em Romanos 8.
Essa luta interna é ilustrada em personagens como Davi, que, apesar de ser homem segundo o coração de Deus, também reconheceu suas quedas (Salmo 51).
A promessa de que seremos libertos completamente do corpo de pecado aponta para a esperança da ressurreição e da glorificação, temas centrais no Novo Testamento (1 Coríntios 15.42-49).
Romanos 7 também me lembra do ensino de Jesus de que a verdadeira santidade não começa nas ações, mas no coração (Mateus 5.27-28).
Referências
- HERNANDES DIAS LOPES. Romanos: O Evangelho Segundo Paulo. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2010.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

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