O Salmo 47 é atribuído aos filhos de Corá, um grupo levítico responsável pelo ministério musical e pelo louvor no templo. Eles também são autores de outros salmos conhecidos, como os Salmos 42 a 49. A tradição coraíta está ligada ao serviço no santuário, e isso confere ao salmo uma atmosfera litúrgica, repleta de exultação e louvor coletivo.
Embora alguns estudiosos atribuam o salmo a Davi, como observa Spurgeon, por indícios estilísticos e teológicos, a autoria exata permanece incerta. João Calvino argumenta que o mais importante é o uso a que o salmo se destina: louvar a Deus como Rei universal e anunciar o avanço do seu reino sobre todas as nações (CALVINO, 2009, p. 330).
O pano de fundo do salmo parece ser uma cerimônia de entronização ou de ação de graças nacional, celebrando uma grande vitória ou a ascensão de Deus ao trono, representada pela subida da arca da aliança ao monte Sião.
No entanto, como observam Walton, Matthews e Chavalas, não há evidências históricas de que Israel mantivesse rituais de entronização regulares como os demais povos do antigo Oriente Próximo (WALTON et al., 2018, p. 688). Assim, o salmo provavelmente foi usado em festas religiosas para afirmar a soberania de Deus sobre Israel e todas as nações.
Mais do que um salmo nacionalista, o Salmo 47 é uma profecia do reino de Cristo. Ele celebra a presença de Deus no meio do seu povo e aponta para o dia em que Ele será exaltado entre todas as nações, conforme anunciado em Salmos 46:10: “Serei exaltado entre as nações, serei exaltado na terra!”.
Convite universal ao louvor (Sl 47:1-2)
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“Batam palmas, vocês, todos os povos; aclamem a Deus com cantos de alegria. Pois o Senhor Altíssimo é temível, é o grande Rei sobre toda a terra!”
O salmista convoca não apenas Israel, mas todos os povos a louvarem a Deus. O gesto de bater palmas era sinal de júbilo e aprovação. Ao ler esse trecho, eu entendo que a adoração verdadeira rompe fronteiras e barreiras culturais. Deus não é apenas o Rei de Israel, mas de toda a terra.
Calvino observa que essa convocação à alegria não pode ser explicada por uma sujeição forçada, mas por uma submissão alegre ao reinado gracioso de Deus (CALVINO, 2009, p. 331). Isso aponta para um reinado futuro em que os povos se unem não pela força, mas pela fé.
A ação do Rei sobre as nações (Sl 47:3-4)
“Ele subjugou as nações ao nosso poder, os povos colocou debaixo de nossos pés, e escolheu para nós a nossa herança, o orgulho de Jacó, a quem amou.”
Aqui há uma recordação das vitórias de Israel, especialmente da conquista de Canaã. No entanto, como Calvino ressalta, o salmista está enxergando além da história de Israel, apontando para o dia em que as nações se submeterão espiritualmente ao reinado de Cristo (CALVINO, 2009, p. 333). Essa sujeição não é violenta, mas transformadora.
O orgulho de Jacó, mencionado no verso 4, é a terra prometida. Mas, ao refletir sobre esse versículo, eu percebo que a herança final da Igreja não é um território, e sim o próprio Cristo (cf. Efésios 1:11). Deus escolheu para nós uma herança eterna em seu Filho.
A entronização de Deus (Sl 47:5-6)
“Deus subiu em meio a gritos de alegria; o Senhor, em meio ao som de trombetas. Ofereçam música a Deus, cantem louvores! Ofereçam música ao nosso Rei, cantem louvores!”
Essa seção descreve a subida de Deus ao seu trono, em linguagem triunfal. A imagem é possivelmente inspirada na subida da arca ao monte Sião (2Sm 6:15), mas, como destaca Calvino, essa “subida” simboliza algo muito mais elevado: a ascensão de Cristo aos céus como Rei vitorioso (CALVINO, 2009, p. 335).
Ao ler esses versos, eu sou lembrado de que o louvor é inseparável do governo de Deus. O louvor não é apenas emoção, é resposta ao senhorio de Deus. A repetição intensa da expressão “cantem louvores” enfatiza que a música e a celebração são formas legítimas de exaltar a soberania divina.
A soberania de Deus afirmada (Sl 47:7-8)
“Pois Deus é o rei de toda a terra; cantem louvores com harmonia e arte. Deus reina sobre as nações; Deus está assentado em seu santo trono.”
Esses versos reforçam o escopo universal do reinado de Deus. A expressão “com harmonia e arte” implica que o louvor deve ser inteligente e belo. Calvino comenta que a adoração não deve ser apenas ruído, mas fruto de entendimento e reverência (CALVINO, 2009, p. 336).
A frase “Deus está assentado em seu santo trono” comunica estabilidade, santidade e autoridade. Quando tudo parece fora de controle no mundo, o trono de Deus permanece firme. Ao meditar nesse versículo, eu encontro descanso: Deus reina com justiça, sabedoria e santidade.
A união das nações com Israel (Sl 47:9)
“Os soberanos das nações se juntam ao povo do Deus de Abraão, pois os governantes da terra pertencem a Deus; ele é soberanamente exaltado.”
Esse versículo fecha o salmo com uma visão gloriosa. Os governantes das nações reconhecem o Deus de Abraão. Para Calvino, isso simboliza o enxerto dos gentios na fé dos patriarcas, como Paulo ensina em Efésios 3:6 (CALVINO, 2009, p. 339).
Ao refletir sobre essa imagem, eu vejo que a verdadeira unidade entre os povos não virá de tratados políticos, mas da fé em Cristo. O Deus que rege os tronos terrenos é também aquele que convida todos a fazer parte do seu povo.
Cumprimento das profecias
O Salmo 47 é claramente messiânico. Ele antecipa a ascensão de Jesus, conforme descrito em Efésios 4:10: “Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas.” Spurgeon afirma que as palavras do versículo 5 “são totalmente aplicáveis à ascensão do Redentor” (LOPES, 2022, p. 521).
Além disso, o salmo antecipa a união de judeus e gentios sob o mesmo Senhor, tema desenvolvido por Paulo em Romanos 11. A reunião dos povos ao redor do Deus de Abraão é uma das promessas da aliança, reafirmada em Gênesis 28:14: “em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.”
Significado dos nomes e simbolismos do Salmo 45
- Jacó – Representa Israel, o povo escolhido. A expressão “orgulho de Jacó” remete à herança da terra e à bênção divina sobre a nação.
- Subida de Deus – Pode representar a entronização simbólica de Deus ou apontar para a ascensão de Cristo aos céus como Rei soberano.
- Trombetas – Símbolos de celebração, convocação e solenidade, usados em festas e momentos decisivos na história de Israel.
- Trono santo – Refere-se ao lugar de governo de Deus, onde santidade e autoridade se encontram. Pode simbolizar o céu ou o santuário.
- Escudos da terra – Uma metáfora para os governantes. Como observa Calvino, aponta para a soberania de Deus até sobre os líderes terrenos (CALVINO, 2009, p. 340).
Lições espirituais e aplicações práticas do Salmo 45
- Deus reina sobre tudo – Ao ler o Salmo 47, eu sou confrontado com a verdade de que nada escapa ao governo de Deus, nem mesmo os acontecimentos globais.
- O louvor deve ser alegre e inteligente – O salmista ensina que devemos louvar com entendimento, usando mente e coração em harmonia.
- A Igreja deve proclamar a realeza de Cristo – Vivemos num tempo em que muitos negam a soberania divina. Nosso chamado é proclamar que Jesus é o Rei.
- A missão é global – Desde o Antigo Testamento, a visão de Deus sempre incluiu todas as nações. A evangelização não é uma estratégia moderna, mas uma vocação eterna.
- A adoração une povos e culturas – O salmo termina com reis se unindo ao povo de Deus. A verdadeira unidade acontece quando todos se submetem ao mesmo Senhor.
- A esperança está no trono santo de Deus – Quando o mundo parece em caos, eu me lembro: Deus está no trono, e Ele reina com justiça.
Conclusão
O Salmo 47 é um convite à adoração universal e uma proclamação da soberania divina. Ele começa com alegria contagiante e termina com uma visão profética da união de todos os povos sob o reinado do Deus de Abraão. Ao meditar nesse salmo, eu sou lembrado de que o governo de Deus não conhece fronteiras, que a salvação é para todos os povos, e que Cristo é o Rei exaltado que reina hoje.
Ele reina. Por isso, batamos palmas. Cantemos louvores. E proclamemos: Jesus é o Senhor.
Referências
- CALVINO, João. Salmos. Org. Franklin Ferreira, Tiago J. Santos Filho, e Francisco Wellington Ferreira. Trad. Valter Graciano Martins. 1. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009. v. 2.
- LOPES, Hernandes Dias. Salmos: O Livro das Canções e Orações do Povo de Deus. Org. Aldo Menezes. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2022. v. 1 e 2.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Trad. Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.