2 Reis 13 é um capítulo que revela a tensão entre a disciplina e a misericórdia de Deus. Vemos reis que persistem na idolatria, um povo oprimido, um profeta prestes a morrer e, ainda assim, promessas que se cumprem. Mesmo quando a liderança falha, Deus continua sendo fiel à sua aliança com o povo.
Ao ler este capítulo, percebo como a graça de Deus pode brilhar mesmo em tempos de decadência espiritual. É um lembrete de que Deus não se esquece do que prometeu, mesmo quando nós nos afastamos Dele.
Qual era o cenário histórico e espiritual de Israel neste momento?
Estamos no Reino do Norte, Israel, durante o oitavo século antes de Cristo. Jeoacaz, filho de Jeú, assume o trono em Samaria no vigésimo terceiro ano de Joás, rei de Judá. Seu reinado dura 17 anos (2 Rs 13.1). Mas, ao invés de corrigir os erros do passado, ele continua seguindo os pecados de Jeroboão (2 Rs 13.2), assim como outros reis antes dele, como vimos em 2 Reis 10.
O cenário político era delicado. A Síria, sob Hazael e depois Ben-Hadade III, dominava militarmente Israel. A opressão era severa. O povo vivia acuado e sem força para reagir. Ainda assim, mesmo com um rei que seguia o caminho da idolatria, Jeoacaz busca o favor de Deus, e o Senhor o ouve (2 Rs 13.4).
Thomas Constable afirma que “como disciplina contra Israel por sua desobediência à Lei Mosaica, Deus permitiu que os arameus os dominassem” (CONSTABLE, 1985, p. 562). O domínio sírio, portanto, era tanto uma consequência espiritual quanto uma crise política.
Nesse período, a voz profética ainda estava presente. Eliseu, embora envelhecido e doente, ainda era reconhecido como a verdadeira força de Israel, como veremos mais adiante. Em meio à idolatria e à fraqueza militar, Deus continua operando — não por merecimento, mas por misericórdia.
O que aprendemos com os reis Jeoacaz e Jeoás? (2 Reis 13.1–13)
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A primeira parte do capítulo apresenta dois reis que governam em sequência: Jeoacaz e seu filho Jeoás. Jeoacaz faz o que o Senhor reprova, seguindo os pecados de Jeroboão (2 Rs 13.2). Como consequência, o povo sofre nas mãos dos sírios (2 Rs 13.3), como também havia sofrido anteriormente em 2 Reis 8.
Mas algo surpreendente acontece: “Jeoacaz buscou o favor do Senhor, e este o ouviu” (2 Rs 13.4). Mesmo num contexto de idolatria, Deus responde ao clamor. Isso mostra que o arrependimento sincero, mesmo que momentâneo, ainda tem valor diante de Deus.
A libertação vem de forma indireta. Segundo Constable, o “libertador” mencionado provavelmente foi Adad-Nirari III, rei da Assíria, que atacou a Síria em 803 a.C., desviando sua atenção de Israel (CONSTABLE, 1985, p. 562). O povo de Israel pôde, então, “voltar às suas casas e viver em paz” (2 Rs 13.5).
Contudo, esse alívio não levou à mudança espiritual. “Mas continuaram a praticar os pecados… inclusive a coluna sagrada permanecia de pé em Samaria” (2 Rs 13.6). A idolatria estava entranhada na cultura. A coluna de Aserá era um símbolo do culto à deusa cananeia Aserá, consorte de Baal.
Já Jeoás, filho de Jeoacaz, reina 16 anos e segue pelo mesmo caminho de pecado (2 Rs 13.11). Ainda assim, sua relação com Eliseu mostra nuances de temor a Deus — um contraste intrigante.
Esses relatos revelam algo profundo: líderes que falham, mas ainda assim fazem parte dos planos de Deus. Deus pode agir em meio ao caos — não porque aprovou o pecado, mas porque é fiel ao que prometeu, como vimos também em 2 Reis 3, quando Deus deu vitória mesmo a reis injustos.
Qual foi o papel profético de Eliseu antes de sua morte? (2 Reis 13.14–21)
Essa é uma das cenas mais emocionantes de todo o livro. Eliseu está à beira da morte. Jeoás vai até ele e chora. As palavras do rei mostram reverência: “Meu pai! Meu pai! Tu és como os carros e os cavaleiros de Israel!” (2 Rs 13.14).
Aquela expressão carrega peso. Foi a mesma usada por Eliseu quando Elias foi levado ao céu (2 Reis 2). Mostra que o verdadeiro poder de Israel não estava em cavalos ou exércitos, mas na presença de Deus — representada por seus profetas.
Eliseu então realiza um ato simbólico: ordena ao rei que pegue um arco e flechas, atire pela janela voltada ao oriente e, depois, golpeie o chão (2 Rs 13.15–18). A primeira flecha representava a vitória do Senhor sobre os sírios em Afeque (2 Rs 13.17). Mas o rei só golpeia o chão três vezes — e para.
Eliseu se ira: “Você deveria ter golpeado o chão cinco ou seis vezes” (2 Rs 13.19). O problema não era a técnica, mas a falta de fé. Jeoás não ousou crer que Deus poderia dar uma vitória completa. Como resultado, venceria apenas três vezes — e não destruiria totalmente os sírios.
Constable afirma que “ao deixar de disparar mais flechas, Jeoás falhou em confiar plenamente no que Deus havia prometido” (CONSTABLE, 1985, p. 563). Essa lição é atemporal: a nossa fé muitas vezes limita aquilo que Deus quer fazer por nós. Isso nos lembra o que aconteceu com Simão em Atos 8, que também não entendeu a profundidade do agir divino.
Após isso, Eliseu morre. Mas até depois de morto, Deus o usa. Um cadáver jogado sobre seus ossos revive (2 Rs 13.21). O poder de Deus permanece além da morte. Isso é uma poderosa mensagem: mesmo quando parece que tudo acabou, Deus ainda tem algo a fazer. Esse milagre ecoa o que vimos com Pedro em Atos 9, ao ressuscitar Dorcas — mostrando que Deus continua usando seus servos para dar vida.
Como se cumpriram as palavras de Eliseu? (2 Reis 13.22–25)
Depois da morte de Eliseu, o rei Hazael morre também, e seu filho Ben-Hadade assume o trono da Síria (2 Rs 13.24). Jeoás então entra em batalha contra ele e o derrota três vezes, como Eliseu havia profetizado (2 Rs 13.25).
“Jeoás reconquistou as cidades que Jeoacaz havia perdido” (2 Rs 13.25). O cumprimento exato da profecia revela mais uma vez a fidelidade de Deus. Mesmo com um rei que não era piedoso, Deus cumpre sua palavra — por causa de sua aliança com os patriarcas.
O texto destaca isso: “O Senhor foi bondoso para com eles… por causa da sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó” (2 Rs 13.23). A aliança ainda sustentava Israel, mesmo quando o povo não fazia por merecer.
Constable reforça: “Foi a promessa de Deus, não a bondade do povo, que o levou a ser misericordioso” (CONSTABLE, 1985, p. 564). Esse é um princípio profundo: a fidelidade de Deus não depende da nossa performance, mas da sua própria palavra.
Essas promessas têm conexão com o Novo Testamento?
Sim. A fidelidade de Deus à sua aliança com os patriarcas é um reflexo do que Paulo afirma em Romanos 11. Mesmo diante da incredulidade, “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29).
Além disso, a relação entre o rei e o profeta antecipa a relação entre Jesus e os líderes do seu tempo. Muitos o reconheceram como homem de Deus, mas não se entregaram totalmente à sua palavra — assim como Jeoás. Um exemplo claro é o confronto entre Jesus e os fariseus em Mateus 23.
A ressurreição do morto ao tocar os ossos de Eliseu antecipa a promessa da vida eterna em Cristo. Em João 11, Jesus ressuscita Lázaro como sinal de que Ele mesmo é a ressurreição e a vida.
O que podemos aplicar à nossa vida hoje?
- Deus ouve mesmo quando estamos fracos – Jeoacaz buscou a Deus, e Ele respondeu. Isso me encoraja a buscar o Senhor mesmo quando não estou em meu melhor momento.
- A idolatria ainda está viva – A coluna de Aserá permanecia em Samaria. Hoje, nossos ídolos podem ser digitais, emocionais ou financeiros. O alerta continua.
- A fé limitada produz resultados limitados – Jeoás parou cedo demais. Eu aprendo que devo confiar plenamente em Deus, sem colocar limites ao que Ele pode fazer.
- O legado dos profetas continua – Mesmo morto, Eliseu realizou um milagre. As sementes que plantamos hoje ainda frutificam depois de nós.
- A misericórdia de Deus é maior que nossa infidelidade – Israel não merecia ser libertado, mas Deus agiu por amor à aliança. Isso aponta para a graça que recebemos em Cristo.
- Reconhecer a fonte do poder é fundamental – Jeoás chorou diante de Eliseu. Sabia que a força de Israel vinha de Deus, não dos exércitos. Que eu também me lembre disso.
Conclusão
2 Reis 13 mostra que Deus não desiste do seu povo. Mesmo quando os líderes falham, mesmo quando a fé é pequena, mesmo quando a idolatria persiste, Ele continua trabalhando. A história de Jeoacaz e Jeoás não é sobre reis perfeitos, mas sobre um Deus que mantém a aliança.
Eliseu morre, mas o Deus de Eliseu vive. E isso muda tudo.
Se hoje você se sente fraco ou distante, lembre-se: há um libertador. E Ele não vem por mérito nosso, mas por causa da promessa. Como aprendemos em Apocalipse 21, Deus ainda prepara um novo começo para seu povo. Ele é fiel, até o fim.
Referência
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 562–564.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.