Mateus 10 apresenta um dos discursos mais desafiadores de Jesus. Aqui, Ele chama, instrui e envia os doze apóstolos, deixando claro que segui-lo envolve missão, autoridade, oposição e renúncia. Como lembra R. C. Sproul, “o comissionamento dos apóstolos foi um dos eventos mais significativos do ministério terreno de Cristo” (SPROUL, 2017, p. 260).
Neste capítulo, Jesus não promete um caminho fácil. Ele mostra que a missão cristã é marcada por conflitos, perseguições e decisões difíceis, mas também por provisão, autoridade e recompensa. Ao estudarmos Mateus 10, somos confrontados com o custo e o privilégio de seguir a Cristo.
Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 10?
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O Evangelho de Mateus foi escrito para uma audiência majoritariamente judaica, com o objetivo de demonstrar que Jesus é o Messias prometido. A chamada e o envio dos doze apóstolos acontecem no auge do ministério de Jesus na Galileia.
Segundo William Hendriksen, “a escolha dos doze remete ao simbolismo das doze tribos de Israel, apontando para a formação do novo povo de Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 462). Ao selecionar doze representantes e conceder-lhes autoridade, Jesus sinaliza que o Reino de Deus está se concretizando, restaurando e ampliando a antiga aliança.
Teologicamente, o envio dos apóstolos carrega um princípio importante: a autoridade delegada. Assim como o Pai enviou o Filho com poder e autoridade (João 20.21), agora o Filho envia os apóstolos, dando-lhes não apenas uma mensagem, mas também poder sobre doenças e espíritos malignos.
É importante lembrar que, neste estágio inicial, a missão estava restrita “às ovelhas perdidas de Israel” (Mateus 10.6). A inclusão dos gentios viria mais adiante, como vemos em Mateus 28, no envio global da Grande Comissão.
O que Mateus 10 nos revela sobre o chamado e a missão? (Mateus 10.1–15)
Jesus chama doze homens comuns e lhes concede autoridade extraordinária:
“Chamando seus doze discípulos, deu-lhes autoridade para expulsar espíritos imundos e curar todas as doenças e enfermidades” (Mateus 10.1).
Esse chamado revela algo precioso: Deus usa pessoas comuns para realizar tarefas espirituais grandiosas. Como ressalta Sproul, “autoridade não reside neles mesmos, mas lhes é dada por Cristo” (SPROUL, 2017, p. 263).
A lista dos doze (Mateus 10.2–4) inclui nomes conhecidos, como Pedro e João, e outros quase anônimos. Isso nos lembra que, no Reino, tanto os visíveis quanto os discretos são essenciais. Curiosamente, Mateus se apresenta como “o publicano”, mostrando a graça que o alcançou.
Jesus também dá orientações práticas e espirituais para a missão (Mateus 10.5–15):
- Eles deveriam focar em Israel.
- Pregariam que “o Reino dos céus está próximo” (v. 7).
- Realizariam sinais de cura e libertação, que autenticariam a mensagem.
- Não deveriam se preocupar com sustento, pois “o trabalhador é digno do seu sustento” (v. 10).
Essa dependência total lembra o que vemos em Êxodo 16, quando Deus sustenta Israel no deserto. O suprimento divino é uma marca do ministério cristão autêntico.
Por fim, Jesus alerta que a rejeição à mensagem trará consequências graves:
“No dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (Mateus 10.15).
Isso mostra a seriedade de rejeitar o Evangelho. Hendriksen afirma que “rejeitar os enviados de Cristo é rejeitar o próprio Cristo e, por consequência, o Pai” (HENDRIKSEN, 2001, p. 467).
Como Jesus prepara os discípulos para a perseguição? (Mateus 10.16–33)
Jesus não ilude seus seguidores. Ele os envia “como ovelhas entre lobos” (v. 16) e os instrui a serem “prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. Isso me lembra o quanto sabedoria e pureza devem andar juntas na vida cristã.
A perseguição é certa:
- Eles seriam entregues aos tribunais (v. 17).
- Seriam levados diante de reis e governadores (v. 18).
- Enfrentariam traições familiares (v. 21).
- Seriam odiados por causa de Cristo (v. 22).
Essa realidade não ficou no passado. Ainda hoje, muitos irmãos enfrentam prisões e ameaças por amor a Jesus, como mostram os relatos da Missão Portas Abertas.
Mas Jesus promete auxílio sobrenatural:
“Naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês” (Mateus 10.19–20).
Essa promessa ecoa o que vemos em Atos 4, quando Pedro e João, cheios do Espírito, testemunham com ousadia diante do Sinédrio.
Jesus também lembra que o temor deve ser direcionado corretamente:
“Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mateus 10.28).
Aqui, Ele nos ensina a temer a Deus e não aos homens. Ao mesmo tempo, nos consola dizendo que somos preciosos para o Pai, que conta até mesmo os fios de cabelo da nossa cabeça (v. 30).
Por fim, Jesus afirma a importância da confissão pública:
“Quem me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus” (Mateus 10.32).
Esse versículo me faz lembrar que seguir Jesus não é algo secreto. A fé se vive e se declara, mesmo sob oposição.
Por que Jesus fala de espada e não de paz? (Mateus 10.34–42)
Talvez esse seja o trecho mais surpreendente:
“Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (v. 34).
À primeira vista, soa contraditório. Afinal, Jesus é o “Príncipe da Paz” (Isaías 9.6). Mas como explica Sproul, “Ele trouxe paz entre Deus e os homens, mas essa mesma verdade gera divisão entre os homens” (SPROUL, 2017, p. 288).
A espada aqui simboliza o conflito inevitável entre a verdade do Evangelho e um mundo caído. Isso pode romper até mesmo os laços familiares (v. 35–36).
Jesus também fala de renúncia radical:
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (v. 37).
Esse texto sempre me confronta. Muitas vezes queremos seguir Jesus sem abrir mão de afetos e prioridades que disputam o trono do nosso coração.
Ele prossegue:
“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (v. 38).
Tomar a cruz, no contexto do primeiro século, significava abraçar sofrimento, vergonha e morte. É o chamado à entrega total.
Por outro lado, há recompensa:
- Quem perde a vida por Cristo, a encontra (v. 39).
- Quem recebe um profeta ou um justo, recebe galardão (v. 41).
- Até um simples copo de água dado em nome de Jesus será recompensado (v. 42).
Hendriksen comenta: “Até os atos mais simples de bondade, motivados pela fé, não passam despercebidos por Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 473).
Como Mateus 10 se conecta com o cumprimento das promessas messiânicas?
Mateus 10 não é um capítulo isolado. Ele revela o desenvolvimento do plano messiânico, preparando o terreno para o que virá.
- A autoridade dada aos apóstolos aponta para o Reino inaugurado por Jesus, conforme anunciado em Mateus 4.
- As instruções sobre perseguição antecipam as dificuldades da igreja, como registrado em Atos 5.
- A promessa de recompensa final conecta-se ao retorno glorioso do Filho do Homem, tema central de Mateus 25.
Além disso, o chamado à renúncia ecoa as palavras proféticas de Zacarias 13.7, onde o Pastor seria ferido e as ovelhas dispersas. A cruz e o seguimento de Cristo estavam profetizados.
Quais lições espirituais tiramos de Mateus 10 para hoje?
Ao ler este capítulo, percebo que seguir Jesus exige mais do que simpatia ou religiosidade superficial. Exige coragem, renúncia e fé.
Aprendo que:
- Deus usa pessoas comuns.
- Ser cristão é se posicionar, mesmo sob rejeição.
- A fidelidade custa, mas vale a pena.
- A perseguição não anula o cuidado de Deus.
- Confessar Jesus publicamente é essencial.
- Segui-lo pode gerar conflitos, inclusive familiares.
- Perder a vida por Ele é a única maneira de encontrá-la.
Isso me desafia a avaliar meu compromisso com Cristo. Será que estou disposto a pagar o preço? Será que o amor por Jesus é maior do que qualquer outra afeição?
Conclusão
Mateus 10 não é um discurso confortável, mas é um chamado necessário. Jesus prepara seus apóstolos — e a nós — para uma jornada marcada por desafios, mas também por autoridade, provisão e recompensa.
O discipulado verdadeiro envolve missão, conflito, renúncia e, acima de tudo, fidelidade. Como nos lembra Apocalipse 2, “Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida”.
Que este capítulo nos leve a um compromisso mais profundo e corajoso com Cristo. Afinal, a maior recompensa é ouvir Jesus nos confessar diante do Pai e dizer: “Bem-vindo ao Reino”.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.