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Ezequiel 1 Estudo: Qual o propósito da visão no chamado?

Diego Nascimento
Escrito por Diego Nascimento

Ezequiel 1 me ensina que a glória de Deus não está limitada a lugares sagrados. No meio do exílio, longe do templo e da terra prometida, o profeta tem uma visão poderosa do Senhor entronizado. Isso me mostra que a presença de Deus é maior que qualquer estrutura religiosa. E quando Ele chama, transforma o ordinário em sagrado — até mesmo um rio estranho na Babilônia se torna palco da revelação.

Qual é o contexto histórico e teológico de Ezequiel 1?

O capítulo 1 de Ezequiel se passa no ano 593 a.C., durante o exílio na Babilônia, quando o profeta está com os deportados judeus às margens do rio Quebar. O “trigésimo ano” mencionado em Ezequiel 1.1, muito provavelmente, marca a idade de Ezequiel, momento em que ele estaria apto para o serviço sacerdotal segundo Números 4.30. Mas, em vez de servi-lo no templo em Jerusalém, ele é chamado para profetizar entre os exilados.

Como explicam Walton, Matthews e Chavalas (2018), o Quebar era um canal de irrigação na região de Nipur, parte de uma rede vital para a agricultura e transporte no império babilônico. Ali, numa terra estrangeira e impura aos olhos judeus, Ezequiel tem uma experiência que redefine sua identidade. Ele, que se preparava para o sacerdócio no templo, torna-se profeta da glória de Deus entre os exilados.

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Daniel I. Block (2012) destaca que o chamado de Ezequiel segue a tradição das teofanias veterotestamentárias, mas com uma intensidade sem precedentes. Deus aparece de forma majestosa, cercado por fogo, criaturas híbridas, rodas cheias de olhos e uma plataforma reluzente. É uma visão que revela não só a glória de Deus, mas também sua mobilidade, soberania e disposição em agir no meio do caos do exílio.

Essa revelação teológica é revolucionária. Em vez de limitar-se ao templo, Deus mostra que sua glória se move, ultrapassa fronteiras e permanece presente mesmo no exílio. Isso muda tudo para Ezequiel — e para mim também.

Como o texto de Ezequiel 1 se desenvolve?

1. Como começa a visão de Ezequiel? (Ezequiel 1.1–3)

A introdução é intensa e pessoal: “Estando eu entre os exilados… se abriram os céus” (v. 1). A narrativa combina a experiência de Ezequiel com uma explicação editorial (vv. 2–3), que aponta a data e o contexto histórico: o quinto ano do exílio de Joaquim.

O que mais me impressiona aqui é que Deus se manifesta ali. Não no templo, não em Jerusalém, mas no meio dos exilados, em terra pagã. Isso desafia toda a teologia tradicional da época, que associava a presença divina ao templo.

Block (2012) mostra que os versículos 2 e 3 funcionam como uma inserção posterior para esclarecer o enigmático “trigésimo ano”. Essa data ganha peso simbólico: Deus escolhe o momento exato em que Ezequiel estaria iniciando seu ministério sacerdotal para chamá-lo como profeta.

2. O que Ezequiel vê na tempestade? (Ezequiel 1.4)

Ezequiel vê uma tempestade que se aproxima do norte, com uma grande nuvem e fogo brilhante, com algo como “metal reluzente” no centro. A direção norte, associada a juízo e perigo (cf. Jeremias 1.14), já indica que algo grandioso e, possivelmente, ameaçador está por vir.

Essa nuvem é símbolo da presença de Deus, assim como no Sinai e no tabernáculo. Mas agora, essa glória vem em direção a Babilônia. Block observa que a linguagem usada é cheia de analogias, porque Ezequiel não encontra palavras adequadas para descrever o que vê.

3. Quem são os seres viventes? (Ezequiel 1.5–14)

Ezequiel vê quatro seres com forma humana, mas cada um com quatro rostos (homem, leão, boi e águia) e quatro asas. Suas pernas brilhavam como bronze, e debaixo das asas havia mãos humanas.

Esses seres não são comuns. A descrição remete às figuras híbridas da arte assíria e babilônica — guardiões com asas, rostos de animais e corpos humanos. Mas aqui, tudo é intensificado. Eles simbolizam a onipotência e onisciência de Deus.

O leão representa força, a águia velocidade, o boi resistência e o homem racionalidade. Juntos, apontam para um Deus que tudo vê, tudo alcança e tudo sustenta.

“Eles iam e vinham como relâmpagos” (v. 14). A velocidade e energia indicam ação imediata. A visão não é apenas majestosa, mas dinâmica. Deus está em movimento.

4. Qual é o significado das rodas? (Ezequiel 1.15–21)

Ao lado de cada ser há uma roda que brilha como berilo, cheia de olhos, e que se move em todas as direções sem virar. As rodas estão conectadas aos seres viventes e são movidas pelo mesmo Espírito.

A presença de olhos ao redor aponta para vigilância total. Deus vê tudo, em todos os lugares. A mobilidade das rodas mostra que sua glória não está confinada a um local. Ela vai onde Ele deseja.

Segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), a ideia de rodas com olhos pode remeter à iconografia babilônica, onde pedras preciosas ovais nos aros davam a impressão de vigilância e brilho.

Isso me lembra que não posso limitar Deus às minhas estruturas ou ideias. Ele se move, vê e age conforme Sua vontade, em qualquer lugar do mundo.

5. O que há acima das criaturas? (Ezequiel 1.22–27)

Acima das criaturas, há uma plataforma como cristal, sustentando um trono de safira. E sobre o trono, “uma figura semelhante a um homem” (v. 26).

Essa figura está cercada de fogo e brilho — como metal incandescente. É a presença gloriosa de Yahweh. Ezequiel não tenta descrevê-lo de forma exata. Ele apenas diz que parecia com… algo resplandecente, ardente, glorioso.

Block destaca que Ezequiel evita uma descrição objetiva, para não cair em idolatria. A visão é real, mas envolta em mistério. Não se trata de uma imagem estática, mas de um encontro transformador com a glória divina.

6. Como Ezequiel reage? (Ezequiel 1.28)

Ao ver tudo isso, Ezequiel cai com o rosto em terra. Ele reconhece que viu “a aparência da glória do Senhor”. Sua reação é a única possível diante do peso da presença divina: adoração.

O arco-íris ao redor da visão aponta para misericórdia, como o sinal da aliança com Noé. Mesmo diante do juízo iminente, Deus ainda se revela com graça.

Como Ezequiel 1 se cumpre no Novo Testamento?

A visão de Ezequiel antecipa a revelação do trono de Deus em Apocalipse 4. João descreve criaturas semelhantes, cercando o trono e louvando dia e noite. Muitos elementos visuais são semelhantes — relâmpagos, vozes, tronos e pedras preciosas.

O Novo Testamento também mostra que a presença de Deus não está mais presa ao templo físico. Jesus ensina isso claramente à mulher samaritana: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (João 4.21–24).

A figura semelhante a um homem que aparece sobre o trono em Ezequiel 1 é um prenúncio do Filho do Homem glorificado. Em Daniel 7, vemos alguém “como um filho de homem” se aproximando do trono do Ancião. Em Apocalipse 1.13–16, essa figura glorificada aparece a João — com brilho, fogo e majestade.

Tudo aponta para Jesus como o cumprimento máximo da glória de Deus. Como diz Hebreus 1.3, Ele é “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser”.

O que Ezequiel 1 me ensina para a vida hoje?

Ao ler Ezequiel 1, sou confrontado com a grandeza de Deus. Sua glória não se limita a prédios ou rituais. Ele age no exílio, no caos, no inesperado. Isso me conforta — porque não importa onde estou, Ele pode me visitar.

Também aprendo que o chamado de Deus pode virar minha vida de cabeça para baixo. Ezequiel esperava servir no templo. Deus o chamou para profetizar entre os cativos. Às vezes, Deus nos tira dos nossos planos para nos dar algo maior — mesmo que pareça mais difícil.

Outro ponto que me marca é que Deus se revela em formas que nem sempre entendo. As imagens são estranhas, os detalhes são complexos. Mas isso mostra que Ele é maior que minha linguagem, maior que minha lógica. Nem tudo que é espiritual será simples de explicar. Algumas coisas, só posso adorar.

A presença do Espírito me inspira. Ele move as rodas, as criaturas, e levanta o profeta. O Espírito não é uma força passiva. Ele age, capacita, conduz. Isso me lembra que não preciso servir a Deus com minhas forças. É o Espírito que me levanta.

Por fim, a visão de Ezequiel me faz perguntar: estou sensível à presença de Deus mesmo fora do “lugar sagrado”? Ou estou preso à ideia de que Ele só fala na igreja, no domingo? Deus pode falar no meio do meu exílio pessoal — quando tudo parece perdido, Ele se revela.


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