Mateus 12 Estudo: o que Jesus ensina sobre misericórdia?

Mateus 12 estudo

Mateus 12 apresenta um ponto de virada no Evangelho. Até aqui, Jesus já havia ensinado com autoridade e realizado milagres que ninguém podia negar. Agora, os conflitos com os fariseus se intensificam. Eles não estão apenas desconfiados — estão decididos a rejeitar o Messias.

R. C. Sproul observa que “o capítulo 12 marca o endurecimento oficial da oposição contra Cristo, que irá crescer até culminar na cruz” (SPROUL, 2010, p. 324).

Enquanto isso, Jesus revela mais claramente sua identidade: Ele é o Senhor do sábado, o Servo prometido de Isaías 42, o mais forte que vence o inimigo e o Filho de Deus que convida as pessoas para fazerem parte da sua verdadeira família.

Por que o sábado gerou tanta polêmica? (Mateus 12.1–14)

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O primeiro embate acontece quando os discípulos colhem espigas no sábado. A Lei permitia fazer isso para matar a fome, como vemos em Deuteronômio 23.25. Mas os fariseus consideravam essa atitude uma violação do sábado.

Jesus então relembra o episódio de Davi e os pães da Presença em 1 Samuel 21, onde Davi come o pão consagrado. O ponto não é que a Lei possa ser desrespeitada, mas que a misericórdia e a necessidade humana sempre estiveram acima dos rituais externos.

Além disso, Jesus lembra que os próprios sacerdotes “profanam” o sábado ao servirem no templo, mas não são culpados (v. 5). Em seguida, Ele faz uma afirmação surpreendente: “Aqui está o que é maior do que o templo” (v. 6).

William Hendriksen comenta que “os fariseus valorizavam tanto o sábado e o templo que se tornaram cegos para o fato de que ambos apontavam para algo infinitamente maior: o próprio Cristo” (HENDRIKSEN, 2001, p. 511).

A prova prática desse ensino vem logo depois, quando Jesus cura um homem com a mão atrofiada no sábado (v. 9–14). Ele mostra que fazer o bem nunca viola o sábado. Pelo contrário, cumpre o real significado desse dia, como vemos na criação em Gênesis 2.

O que significa Jesus ser o Servo escolhido? (Mateus 12.15–21)

Depois desse confronto, Jesus se afasta. Muitos o seguem e Ele os cura. Mas pede que não espalhem a notícia (v. 16). Essa atitude cumpre a profecia de Isaías 42.

“Eis o meu servo, a quem escolhi, o meu amado, em quem tenho prazer…” (v. 18). Jesus é o Servo humilde, cheio do Espírito, que não vem com alarde, mas com compaixão. Ele cuida dos que estão feridos e enfraquecidos: “Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio fumegante” (v. 20).

Ao ler isso, sou lembrado da maneira como Jesus trata quem está prestes a desistir. Ele não esmaga os cansados. Ele restaura. É o que já vimos em Mateus 11.28, quando Ele convida os sobrecarregados para descansar.

Por que os fariseus rejeitam o óbvio? (Mateus 12.22–37)

Em seguida, Jesus cura um homem endemoninhado que era cego e mudo (v. 22). A multidão fica perplexa e se pergunta: “Não será este o Filho de Davi?” (v. 23), reconhecendo o título messiânico de Jesus.

Mas os fariseus, mesmo vendo tudo isso, atribuem o milagre a Satanás: “É somente por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa demônios” (v. 24).

Jesus responde com lógica simples. Um reino dividido não pode subsistir (v. 25–26). Se Satanás estivesse expulsando a si mesmo, seu domínio já teria caído.

Ele deixa claro que é pelo poder do Espírito de Deus que expulsa demônios, o que confirma que o Reino chegou (v. 28), como já fora anunciado em Mateus 4.

Jesus também usa a metáfora do “homem forte” (v. 29). Só é possível saquear a casa dele depois de amarrá-lo. Essa é uma imagem clara de Cristo vencendo o maligno, libertando os cativos.

O que é a blasfêmia contra o Espírito?

Jesus faz um alerta sério: “Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada” (v. 31).

R. C. Sproul explica que “essa blasfêmia acontece quando a pessoa, mesmo diante da obra evidente do Espírito Santo, rejeita deliberadamente a verdade e atribui a Deus a ação do maligno” (SPROUL, 2010, p. 338).

Jesus termina falando da árvore e dos frutos (v. 33–37). As palavras e atitudes revelam o coração. Não existe neutralidade. Ou estamos com Jesus, ou contra Ele, como Ele já afirmou em Mateus 12.30.

Qual é o sinal definitivo de Jesus? (Mateus 12.38–45)

Mesmo após tudo isso, os fariseus pedem mais um sinal (v. 38). Jesus responde: “Uma geração perversa e adúltera pede um sinal. Nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas” (v. 39).

Assim como Jonas ficou três dias e três noites no ventre do peixe, o Filho do Homem ficará três dias e três noites no coração da terra (v. 40). Ele está apontando para sua morte e ressurreição, o sinal definitivo para a humanidade.

Jesus menciona ainda o arrependimento dos ninivitas e a busca da rainha do Sul por sabedoria. Eles reconheceram a verdade, mas aquela geração estava rejeitando alguém “maior do que Jonas” e “maior do que Salomão” (v. 41–42).

Esse ensino se conecta diretamente ao que Ele reforçará em Mateus 16, ao afirmar que a ressurreição é o grande sinal para crer.

O que significa a parábola da casa vazia?

Jesus ilustra com a história de um espírito maligno que sai de uma pessoa, mas retorna e encontra a “casa” vazia, trazendo outros sete espíritos ainda piores (v. 43–45).

Essa é uma advertência contra mudanças superficiais. Uma vida apenas organizada, sem Cristo, está vulnerável ao pior. Sem transformação interior, o fim pode ser mais trágico que o começo.

Quem são os verdadeiros irmãos de Jesus? (Mateus 12.46–50)

Por fim, enquanto Jesus fala à multidão, sua mãe e seus irmãos o procuram. Mas Ele diz: “Quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (v. 50).

Jesus não rejeita sua família biológica, mas aponta para uma verdade maior. O pertencimento no Reino não é definido por laços de sangue, mas por obediência a Deus. Essa mesma ideia aparece em João 1.12, quando aprendemos que quem crê em Cristo se torna filho de Deus.

O que aprendemos com Mateus 12 hoje? (Mateus 12.1–50)

Esse capítulo revela tanto a dureza do coração humano quanto a misericórdia de Deus.

Os fariseus são o retrato do perigo do legalismo e da incredulidade. Mesmo conhecendo a Lei, resistiram ao Messias. Isso me leva a refletir: posso ter conhecimento bíblico e, ainda assim, fechar meu coração para Jesus?

Jesus, por outro lado, mostra sua compaixão, autoridade e divindade. Ele é o Senhor do sábado, o Servo humilde de Isaías 42, o que vence o maligno e o Messias esperado.

Aprendo que seguir Jesus não é apenas cumprir regras. É entregar o coração, deixar que Ele transforme o interior e crer no sinal supremo: sua morte e ressurreição.

Ele continua convidando os cansados para o descanso, como disse em Mateus 11.28, mas também deixa claro: ou estamos com Ele, ou contra Ele.

Minha oração é que todos possamos abrir o coração e fazer parte da família espiritual de Jesus, não apenas de palavras, mas em obediência.

Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 11 Estudo: onde encontrar descanso para a alma?

Mateus 11 Estudo

Mateus 11 é um dos capítulos mais intensos do Evangelho. Aqui vemos o peso da dúvida, a dureza do coração humano e, ao mesmo tempo, a ternura do convite de Jesus. João Batista, mesmo sendo o maior dos profetas, se vê abalado. As cidades onde Cristo realizou milagres rejeitam o arrependimento. E no final, o Salvador faz um chamado cheio de amor aos cansados e sobrecarregados.

Como destaca R. C. Sproul, “neste capítulo vemos a graça e a soberania de Deus caminhando juntas, revelando Cristo aos humildes e ocultando-O dos soberbos” (SPROUL, 2010, p. 298).

Esse capítulo complementa o ensino iniciado em Mateus 10, onde Jesus envia os doze em missão, preparando o cenário para as respostas — ou rejeições — que veremos aqui.

Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 11?

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Mateus escreveu esse Evangelho com o propósito claro de apresentar Jesus como o Messias prometido. No capítulo 11, esse propósito fica evidente, especialmente ao mostrar o cumprimento das profecias de Isaías 35 e Isaías 61.

O cenário é de tensão crescente. João Batista está preso, possivelmente na fortaleza de Maquero, por denunciar os pecados de Herodes Antipas, como veremos melhor em Mateus 14.

Os judeus daquela época esperavam um Messias guerreiro, alguém que libertasse Israel do domínio romano. Porém, Jesus estava quebrando as expectativas, e isso gerava dúvidas até nos mais piedosos.

William Hendriksen afirma: “As expectativas populares distorciam a figura do Messias. Mesmo João, em sua prisão, sentiu-se abalado diante do aparente silêncio de Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 470).

Teologicamente, o capítulo ressalta um ponto-chave: o Reino de Deus já está em ação, mas ainda não em sua plenitude. Essa tensão entre o “já” e o “ainda não” é visível em todo o Evangelho de Mateus.

O que ensina o texto de Mateus 11?

Por que João Batista duvidou de Jesus? (Mateus 11.1–6)

João Batista, aquele que preparou o caminho do Senhor, agora está preso. Ele ouve falar das obras de Cristo e envia discípulos para perguntar: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?” (v. 3).

Sinceramente? Eu entendo o coração de João. Quem nunca se sentiu confuso diante do sofrimento? Ele sabia quem Jesus era, mas a prisão e a demora em ver o Reino plenamente estabelecido o deixaram em dúvida.

Jesus responde com firmeza, mas sem condenação: “os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres” (v. 5).

Isso cumpre as profecias de Isaías 35 e Isaías 61, que também encontramos sendo destacadas no início do ministério de Jesus em Mateus 4.

R. C. Sproul comenta: “Jesus aponta para as Escrituras como resposta. A Bíblia interpreta os acontecimentos e revela quem Ele é” (SPROUL, 2010, p. 299).

O versículo 6 traz um alerta atemporal: “feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”. Quando Deus não age como esperamos, precisamos confiar, não tropeçar.

Como Jesus exaltou João Batista? (Mateus 11.7–15)

Assim que os discípulos de João se afastam, Jesus se volta à multidão e faz questão de honrar João. Ele não era inconstante como um “caniço agitado pelo vento” (v. 7), nem alguém acomodado em palácios luxuosos (v. 8).

João era profeta e, segundo Jesus, “mais que profeta” (v. 9). Ele é o mensageiro prometido em Malaquias 3.1, responsável por preparar o caminho do Senhor.

A declaração mais surpreendente está no verso 11: “entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista; todavia, o menor no Reino dos céus é maior do que ele”.

Isso não diminui João, mas revela que as bênçãos do Reino inaugurado por Cristo são maiores do que tudo que veio antes, como fica claro em Mateus 5, no Sermão do Monte.

Hendriksen explica: “João foi o ponto culminante da revelação do Antigo Testamento, mas as promessas cumpridas em Cristo superam tudo” (HENDRIKSEN, 2001, p. 474).

Jesus ainda revela que João é o Elias profetizado, não de forma literal, mas espiritual, como explica Lucas 1.17.

Por que aquela geração foi comparada a crianças birrentas? (Mateus 11.16–19)

Jesus critica a imaturidade e teimosia do povo. Eles rejeitam tanto o estilo austero de João quanto a abordagem relacional de Jesus. Como crianças insatisfeitas, dizem:

“Tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não se entristeceram” (v. 17).

João, por seu jejum e estilo de vida, foi chamado de endemoninhado. Jesus, por sua convivência com pecadores, foi chamado de comilão e beberrão.

Essa rejeição, como vemos em Mateus 23, revela o coração endurecido, que prefere críticas a arrependimento.

Sproul afirma: “O problema não está no mensageiro ou no método, mas no coração fechado do homem” (SPROUL, 2010, p. 301).

Por que Jesus repreendeu as cidades da Galileia? (Mateus 11.20–24)

Jesus então denuncia Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Nessas cidades, Ele realizou muitos milagres, mas o povo não se arrependeu.

Ele compara a situação com cidades pagãs como Tiro, Sidom e até Sodoma. Se tivessem visto os sinais que as cidades da Galileia viram, já teriam se arrependido.

Isso se conecta com a advertência de Mateus 7, onde Jesus fala sobre o perigo de ouvir, mas não praticar a Palavra.

Hendriksen observa: “Quanto maior o privilégio espiritual, maior a responsabilidade e, consequentemente, maior o juízo se houver rejeição” (HENDRIKSEN, 2001, p. 477).

Qual o convite de Jesus aos cansados? (Mateus 11.25–30)

Apesar do juízo, Jesus revela o coração do evangelho: um convite cheio de graça. Ele agradece ao Pai por revelar essas coisas aos pequeninos (v. 25–26) e afirma que só o Filho revela o Pai (v. 27).

Então vem o chamado: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (v. 28).

Esse descanso não é apenas alívio físico. É paz para a alma, perdão, libertação da culpa. Um eco desse descanso aparece em Apocalipse 21, onde o choro e o sofrimento cessam.

Jesus fala do seu jugo suave e fardo leve. Como destaca Sproul: “O jugo de Cristo traz liberdade. Não é ausência de compromisso, mas alívio do peso do pecado e da culpa” (SPROUL, 2010, p. 303).

Como Mateus 11 cumpre as promessas proféticas?

Vemos várias conexões com o Antigo Testamento:

  • As obras de Jesus cumprem Isaías 35 e Isaías 61, mostrando que Ele é o Messias.
  • João Batista cumpre Malaquias 3.1 e Malaquias 4.5, sendo o mensageiro e o Elias espiritual.
  • As advertências às cidades refletem os oráculos de juízo presentes nos profetas.

Assim, Mateus mostra que tudo que está acontecendo está dentro do plano soberano de Deus, como já vimos em Mateus 1.

Que lições práticas tiramos de Mateus 11?

Ao ler esse texto, aprendo que:

  1. Até os fortes têm dúvidas, mas devemos levá-las a Jesus, como João fez.
  2. O privilégio gera responsabilidade. Quanto mais luz, maior o chamado ao arrependimento.
  3. O Reino se revela aos humildes, não aos orgulhosos.
  4. O jugo de Jesus traz descanso, mesmo em meio às dificuldades.
  5. Deus cumpre Suas promessas, e nossa parte é confiar e seguir o Salvador.

Conclusão

Mateus 11 revela um Cristo que, ao mesmo tempo, julga os impenitentes e chama os cansados. É impossível sair indiferente desse texto. Ou nos rendemos em arrependimento e fé, ou corremos o risco de endurecer o coração.

Que eu e você sejamos como os pequeninos, que reconhecem a própria fraqueza e correm para os braços de Jesus, aquele que alivia, transforma e conduz com graça.

Para aprofundar, recomendo também o estudo de Mateus 14, onde vemos o destino de João Batista e o avanço do ministério de Cristo.


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 10 Estudo: o que significa ser enviado por Jesus?

Mateus - Bíblia de Estudo Online

Mateus 10 apresenta um dos discursos mais desafiadores de Jesus. Aqui, Ele chama, instrui e envia os doze apóstolos, deixando claro que segui-lo envolve missão, autoridade, oposição e renúncia. Como lembra R. C. Sproul, “o comissionamento dos apóstolos foi um dos eventos mais significativos do ministério terreno de Cristo” (SPROUL, 2017, p. 260).

Neste capítulo, Jesus não promete um caminho fácil. Ele mostra que a missão cristã é marcada por conflitos, perseguições e decisões difíceis, mas também por provisão, autoridade e recompensa. Ao estudarmos Mateus 10, somos confrontados com o custo e o privilégio de seguir a Cristo.

Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 10?

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O Evangelho de Mateus foi escrito para uma audiência majoritariamente judaica, com o objetivo de demonstrar que Jesus é o Messias prometido. A chamada e o envio dos doze apóstolos acontecem no auge do ministério de Jesus na Galileia.

Segundo William Hendriksen, “a escolha dos doze remete ao simbolismo das doze tribos de Israel, apontando para a formação do novo povo de Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 462). Ao selecionar doze representantes e conceder-lhes autoridade, Jesus sinaliza que o Reino de Deus está se concretizando, restaurando e ampliando a antiga aliança.

Teologicamente, o envio dos apóstolos carrega um princípio importante: a autoridade delegada. Assim como o Pai enviou o Filho com poder e autoridade (João 20.21), agora o Filho envia os apóstolos, dando-lhes não apenas uma mensagem, mas também poder sobre doenças e espíritos malignos.

É importante lembrar que, neste estágio inicial, a missão estava restrita “às ovelhas perdidas de Israel” (Mateus 10.6). A inclusão dos gentios viria mais adiante, como vemos em Mateus 28, no envio global da Grande Comissão.

O que Mateus 10 nos revela sobre o chamado e a missão? (Mateus 10.1–15)

Jesus chama doze homens comuns e lhes concede autoridade extraordinária:

“Chamando seus doze discípulos, deu-lhes autoridade para expulsar espíritos imundos e curar todas as doenças e enfermidades” (Mateus 10.1).

Esse chamado revela algo precioso: Deus usa pessoas comuns para realizar tarefas espirituais grandiosas. Como ressalta Sproul, “autoridade não reside neles mesmos, mas lhes é dada por Cristo” (SPROUL, 2017, p. 263).

A lista dos doze (Mateus 10.2–4) inclui nomes conhecidos, como Pedro e João, e outros quase anônimos. Isso nos lembra que, no Reino, tanto os visíveis quanto os discretos são essenciais. Curiosamente, Mateus se apresenta como “o publicano”, mostrando a graça que o alcançou.

Jesus também dá orientações práticas e espirituais para a missão (Mateus 10.5–15):

  • Eles deveriam focar em Israel.
  • Pregariam que “o Reino dos céus está próximo” (v. 7).
  • Realizariam sinais de cura e libertação, que autenticariam a mensagem.
  • Não deveriam se preocupar com sustento, pois “o trabalhador é digno do seu sustento” (v. 10).

Essa dependência total lembra o que vemos em Êxodo 16, quando Deus sustenta Israel no deserto. O suprimento divino é uma marca do ministério cristão autêntico.

Por fim, Jesus alerta que a rejeição à mensagem trará consequências graves:

“No dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (Mateus 10.15).

Isso mostra a seriedade de rejeitar o Evangelho. Hendriksen afirma que “rejeitar os enviados de Cristo é rejeitar o próprio Cristo e, por consequência, o Pai” (HENDRIKSEN, 2001, p. 467).

Como Jesus prepara os discípulos para a perseguição? (Mateus 10.16–33)

Jesus não ilude seus seguidores. Ele os envia “como ovelhas entre lobos” (v. 16) e os instrui a serem “prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. Isso me lembra o quanto sabedoria e pureza devem andar juntas na vida cristã.

A perseguição é certa:

  • Eles seriam entregues aos tribunais (v. 17).
  • Seriam levados diante de reis e governadores (v. 18).
  • Enfrentariam traições familiares (v. 21).
  • Seriam odiados por causa de Cristo (v. 22).

Essa realidade não ficou no passado. Ainda hoje, muitos irmãos enfrentam prisões e ameaças por amor a Jesus, como mostram os relatos da Missão Portas Abertas.

Mas Jesus promete auxílio sobrenatural:

“Naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês” (Mateus 10.19–20).

Essa promessa ecoa o que vemos em Atos 4, quando Pedro e João, cheios do Espírito, testemunham com ousadia diante do Sinédrio.

Jesus também lembra que o temor deve ser direcionado corretamente:

“Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mateus 10.28).

Aqui, Ele nos ensina a temer a Deus e não aos homens. Ao mesmo tempo, nos consola dizendo que somos preciosos para o Pai, que conta até mesmo os fios de cabelo da nossa cabeça (v. 30).

Por fim, Jesus afirma a importância da confissão pública:

“Quem me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus” (Mateus 10.32).

Esse versículo me faz lembrar que seguir Jesus não é algo secreto. A fé se vive e se declara, mesmo sob oposição.

Por que Jesus fala de espada e não de paz? (Mateus 10.34–42)

Talvez esse seja o trecho mais surpreendente:

“Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (v. 34).

À primeira vista, soa contraditório. Afinal, Jesus é o “Príncipe da Paz” (Isaías 9.6). Mas como explica Sproul, “Ele trouxe paz entre Deus e os homens, mas essa mesma verdade gera divisão entre os homens” (SPROUL, 2017, p. 288).

A espada aqui simboliza o conflito inevitável entre a verdade do Evangelho e um mundo caído. Isso pode romper até mesmo os laços familiares (v. 35–36).

Jesus também fala de renúncia radical:

“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (v. 37).

Esse texto sempre me confronta. Muitas vezes queremos seguir Jesus sem abrir mão de afetos e prioridades que disputam o trono do nosso coração.

Ele prossegue:

“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (v. 38).

Tomar a cruz, no contexto do primeiro século, significava abraçar sofrimento, vergonha e morte. É o chamado à entrega total.

Por outro lado, há recompensa:

  • Quem perde a vida por Cristo, a encontra (v. 39).
  • Quem recebe um profeta ou um justo, recebe galardão (v. 41).
  • Até um simples copo de água dado em nome de Jesus será recompensado (v. 42).

Hendriksen comenta: “Até os atos mais simples de bondade, motivados pela fé, não passam despercebidos por Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 473).

Como Mateus 10 se conecta com o cumprimento das promessas messiânicas?

Mateus 10 não é um capítulo isolado. Ele revela o desenvolvimento do plano messiânico, preparando o terreno para o que virá.

  • A autoridade dada aos apóstolos aponta para o Reino inaugurado por Jesus, conforme anunciado em Mateus 4.
  • As instruções sobre perseguição antecipam as dificuldades da igreja, como registrado em Atos 5.
  • A promessa de recompensa final conecta-se ao retorno glorioso do Filho do Homem, tema central de Mateus 25.

Além disso, o chamado à renúncia ecoa as palavras proféticas de Zacarias 13.7, onde o Pastor seria ferido e as ovelhas dispersas. A cruz e o seguimento de Cristo estavam profetizados.

Quais lições espirituais tiramos de Mateus 10 para hoje?

Ao ler este capítulo, percebo que seguir Jesus exige mais do que simpatia ou religiosidade superficial. Exige coragem, renúncia e fé.

Aprendo que:

  • Deus usa pessoas comuns.
  • Ser cristão é se posicionar, mesmo sob rejeição.
  • A fidelidade custa, mas vale a pena.
  • A perseguição não anula o cuidado de Deus.
  • Confessar Jesus publicamente é essencial.
  • Segui-lo pode gerar conflitos, inclusive familiares.
  • Perder a vida por Ele é a única maneira de encontrá-la.

Isso me desafia a avaliar meu compromisso com Cristo. Será que estou disposto a pagar o preço? Será que o amor por Jesus é maior do que qualquer outra afeição?

Conclusão

Mateus 10 não é um discurso confortável, mas é um chamado necessário. Jesus prepara seus apóstolos — e a nós — para uma jornada marcada por desafios, mas também por autoridade, provisão e recompensa.

O discipulado verdadeiro envolve missão, conflito, renúncia e, acima de tudo, fidelidade. Como nos lembra Apocalipse 2, “Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida”.

Que este capítulo nos leve a um compromisso mais profundo e corajoso com Cristo. Afinal, a maior recompensa é ouvir Jesus nos confessar diante do Pai e dizer: “Bem-vindo ao Reino”.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 9 Estudo: o que os milagres dizem sobre o Reino?

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Mateus 9 nos apresenta uma sequência impressionante de milagres, chamados e ensinamentos que revelam a autoridade e a compaixão de Jesus. Neste capítulo, vemos o Messias curando enfermos, perdoando pecados, chamando pecadores, ressuscitando mortos e convidando todos a participar da colheita do Reino. Tudo isso aponta para o cumprimento das promessas do Antigo Testamento e nos desafia a confiar em Cristo de forma plena.

Qual é o contexto histórico e teológico de Mateus 9?

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Mateus 9 continua o relato do ministério público de Jesus, especialmente na região da Galileia. Estamos diante de um momento em que a fama de Cristo já se espalhava, mas também começavam a surgir as primeiras manifestações de oposição, principalmente da parte dos fariseus.

Como destaca William Hendriksen, “Mateus organiza os eventos de forma temática, não necessariamente cronológica, para mostrar a autoridade de Jesus em diversas áreas: doenças, natureza, pecado e até a morte” (HENDRIKSEN, 2001, p. 486).

Teologicamente, o capítulo reforça o que Mateus vem construindo desde o início: Jesus é o Messias prometido, o Filho de Davi, aquele que cumpre as profecias e traz o Reino de Deus. Suas ações não são apenas demonstrações de poder, mas sinais messiânicos que confirmam sua identidade.

O ambiente religioso da época estava profundamente marcado pela hipocrisia farisaica e pelo legalismo. Nesse cenário, a compaixão, o perdão e a misericórdia de Jesus contrastam de maneira gritante com a dureza dos líderes religiosos.

Como podemos entender o texto de Mateus 9?

O capítulo pode ser dividido em sete momentos principais:

1. O perdão e a cura do paralítico (Mateus 9.1–8)

Jesus retorna a Cafarnaum, sua base ministerial. Quando um paralítico é trazido até Ele, a primeira preocupação de Cristo não é a condição física, mas espiritual: “Tenha bom ânimo, filho; os seus pecados estão perdoados” (v. 2).

Essa declaração escandaliza os mestres da lei, pois somente Deus pode perdoar pecados. Jesus, conhecendo seus pensamentos, revela sua autoridade divina, curando o paralítico e confirmando que o “Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” (v. 6).

Como bem comenta R. C. Sproul: “Este milagre é uma afirmação pública da divindade de Jesus e um sinal claro de que o Reino de Deus havia irrompido na história” (SPROUL, 2010, p. 103).

2. O chamado de Mateus e o convite aos pecadores (Mateus 9.9–13)

Em seguida, Jesus chama Mateus, o autor deste Evangelho, que era cobrador de impostos — alguém desprezado pelos judeus. A resposta de Mateus é imediata: “Ele se levantou e o seguiu” (v. 9).

O jantar com publicanos e pecadores provoca o escândalo dos fariseus. Mas Jesus explica: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (v. 12). Ele veio para buscar pecadores, não para reafirmar os supostos méritos dos justos.

Esse episódio revela o coração do evangelho: graça para os indignos. Um tema que ecoa também em Lucas 15.

3. A discussão sobre o jejum (Mateus 9.14–17)

Os discípulos de João Batista questionam Jesus sobre o jejum. A resposta de Cristo é cheia de significado: “Como podem os convidados do noivo ficar de luto enquanto o noivo está com eles?” (v. 15).

Jesus se apresenta como o Noivo, um título messiânico ligado às promessas de Deus em Isaías 62.5 e Oséias 2.19–20. O tempo de sua presença é de alegria, mas Ele antecipa sua partida e o tempo de jejum que viria.

As parábolas do remendo e do vinho novo reforçam a ideia de que o Reino de Deus inaugura uma nova era. Não se pode misturar o evangelho com o velho sistema religioso.

4. A ressurreição da filha de Jairo e a cura da mulher do fluxo de sangue (Mateus 9.18–26)

Enquanto falava, um líder da sinagoga chamado Jairo se aproxima e suplica: “Minha filha acaba de morrer. Vem e impõe a tua mão sobre ela, e ela viverá” (v. 18).

No caminho, uma mulher enferma há 12 anos toca o manto de Jesus com fé. Ele a cura e a chama de “filha”, demonstrando ternura e restauração completa.

Na casa de Jairo, Jesus ressuscita a menina, revelando seu poder sobre a morte. Como afirma Hendriksen: “Aqui, Jesus não apenas cura, mas demonstra ser o Senhor da vida e da morte” (HENDRIKSEN, 2001, p. 502).

5. A cura dos dois cegos (Mateus 9.27–31)

Dois cegos clamam por misericórdia, chamando Jesus de “Filho de Davi”, reconhecendo seu papel messiânico. Cristo os pergunta sobre sua fé e, ao tocarem seus olhos, afirma: “Que lhes seja feito segundo a fé que vocês têm!” (v. 29).

Este milagre aponta para a restauração física e espiritual, já que a cegueira, frequentemente, simboliza a incapacidade de perceber as verdades espirituais.

6. A libertação do mudo endemoninhado (Mateus 9.32–34)

Jesus expulsa o demônio que impedia um homem de falar. A multidão se admira, mas os fariseus atribuem o milagre ao poder de Satanás.

Essa acusação revela a dureza do coração dos líderes religiosos e prepara o caminho para o discurso posterior sobre o pecado imperdoável, detalhado em Mateus 12.

7. A compaixão e o chamado à colheita (Mateus 9.35–38)

O capítulo termina com um retrato belíssimo do ministério de Jesus: “ensinando, pregando o evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças” (v. 35). Ao ver as multidões, Ele se compadece delas, pois estão “como ovelhas sem pastor” (v. 36).

Diante da grande colheita espiritual, Jesus convida seus discípulos a orar por trabalhadores. É o chamado missionário que permanece atual.

Como Mateus 9 cumpre as profecias do Antigo Testamento?

Mateus 9 é repleto de ecos proféticos. Destaco alguns:

  • O título “Filho de Davi” (v. 27) aponta para a promessa messiânica de 2 Samuel 7.12–16 e Isaías 9.6–7.
  • A cura dos cegos, dos enfermos e a libertação dos oprimidos cumpriam as expectativas messiânicas de Isaías 35.4–6.
  • A imagem do “Noivo” remete ao relacionamento de Deus com Israel em Oséias 2.19–20 e Isaías 62.5.

Como destaca R. C. Sproul: “Cada milagre de Jesus é um sinal visível de uma realidade invisível: o Reino de Deus chegou” (SPROUL, 2010, p. 118).

Além disso, a compaixão de Jesus pelas multidões sem pastor remete à promessa de Ezequiel 34, onde Deus mesmo prometeu cuidar de suas ovelhas.

Quais lições espirituais e práticas podemos aplicar hoje?

Mateus 9 nos convida a olhar para Jesus com fé, humildade e esperança. Algumas lições saltam aos olhos:

  • Jesus prioriza o perdão: Antes de curar o paralítico, Ele perdoa seus pecados. Isso me lembra que minha maior necessidade é espiritual, não apenas física.
  • Deus usa improváveis: Mateus, o cobrador de impostos, foi chamado e seguiu Jesus. Isso me encoraja a crer que Deus pode transformar qualquer um.
  • A fé simples é recompensada: A mulher do fluxo de sangue e os cegos receberam o que pediram por crerem no poder de Cristo.
  • Jesus não está longe da dor: Ele se compadece das multidões, vê nosso sofrimento e age. Mesmo hoje, Ele se importa comigo e com você.
  • A colheita continua: O convite à oração por trabalhadores é também um chamado ao engajamento. Posso não ser um pregador, mas sou um trabalhador do Reino.

Além disso, o capítulo reforça que não há neutralidade. Como disse Jesus em Mateus 12.30: “Quem não está comigo, está contra mim”.

O que aprendemos com Mateus 9 hoje?

Ao ler Mateus 9, vejo um Cristo cheio de autoridade e compaixão. Ele perdoa, cura, chama, ensina e convida todos a crer.

Jesus não está preocupado apenas em resolver problemas externos, mas em restaurar o coração humano. Ele me ensina que a fé verdadeira não é apenas acreditar, mas segui-lo, como fez Mateus.

As curas e milagres não são o fim, mas o sinal de algo maior: o Reino de Deus já chegou. Jesus venceu o pecado, o diabo e a morte.

Isso me desafia a depender Dele, a confiar no seu poder e a lembrar que, mesmo em meio às dificuldades, Ele vê meu sofrimento e se compadece de mim.

E, acima de tudo, Jesus ainda chama trabalhadores. Ele me chama — e chama você — para participar da colheita. A missão continua. O Reino avança. E o Rei está conosco.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 8 Estudo: como Jesus revela seu poder?

Mateus - Bíblia de Estudo Online

Mateus 8 marca uma transição importante no Evangelho, em que o foco sai do ensino do Sermão do Monte e passa para demonstrações práticas do poder e autoridade de Jesus. Aqui, Mateus reúne uma série de milagres e encontros que revelam a identidade do Messias de maneira concreta. Cada detalhe aponta para o cumprimento das Escrituras e para a compaixão do Salvador.

William Hendriksen destaca que “os capítulos 8 e 9 de Mateus mostram o Rei em ação, demonstrando, por meio de milagres, aquilo que Ele ensinou no Sermão do Monte” (HENDRIKSEN, 2001, p. 433).

Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 8?

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Mateus escreve para um público majoritariamente judeu, e sua intenção, desde o primeiro capítulo, é mostrar que Jesus é o Messias prometido. Após apresentar o ensino de Jesus no Sermão do Monte, o evangelista organiza cuidadosamente relatos de milagres para reforçar que aquele que fala com autoridade também age com autoridade.

Conforme explica R. C. Sproul, “os milagres de Jesus não são meras demonstrações de poder, mas sinais que autenticam Sua identidade como o Enviado de Deus e revelam aspectos do Reino” (SPROUL, 2010, p. 188).

O capítulo se passa na região da Galileia, onde Jesus concentra grande parte do ministério inicial. Cafarnaum se torna o ponto central de Suas atividades, enquanto os milagres servem como confirmação tanto para os judeus quanto para os gentios de que o Reino de Deus havia chegado.

Além disso, o pano de fundo teológico inclui o cumprimento de profecias messiânicas, como as de Isaías 53, e a revelação progressiva da autoridade de Cristo sobre doenças, natureza e o mundo espiritual.

O que Mateus 8 revela sobre o poder de Jesus? (Mateus 8.1–34)

Por que a cura do leproso é tão significativa? (Mateus 8.1–4)

Após o Sermão do Monte, “grandes multidões o seguiram” (v. 1). Mas, no meio dessa multidão, um leproso ousa se aproximar. Segundo a Lei, o leproso era considerado impuro e deveria manter distância (Levítico 13). No entanto, esse homem demonstra fé e humildade ao dizer: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me!” (v. 2).

O toque de Jesus quebra o padrão social e religioso. “Quero. Seja purificado!” (v. 3). Imediatamente, a lepra desaparece. Mais do que um milagre físico, este gesto aponta para o poder de Cristo de restaurar e reintegrar social e espiritualmente o excluído.

Jesus, então, ordena que o homem vá ao sacerdote, conforme Levítico 14, para que haja confirmação oficial da cura. Hendriksen observa que isso também serviria de “testemunho ao povo”, mostrando que Jesus não aboliu a Lei, mas a cumpriu (HENDRIKSEN, 2001, p. 437).

Como a fé do centurião impressiona Jesus? (Mateus 8.5–13)

A cena seguinte ocorre em Cafarnaum. Um centurião romano — representante do império opressor — procura Jesus, implorando pela cura de seu servo (v. 5–6). A resposta de Jesus é imediata: “Eu irei curá-lo” (v. 7). Porém, o centurião surpreende: “Não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado” (v. 8).

Essa demonstração de fé, reconhecendo a autoridade de Jesus, maravilha o próprio Cristo: “Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel ninguém com tamanha fé” (v. 10).

Além disso, Jesus revela aqui o alcance universal do Reino: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus” (v. 11). O Reino não está restrito a Israel; ele é para todos os que creem, sejam judeus ou gentios.

R. C. Sproul comenta que “essa declaração de Jesus abre as portas para o entendimento de que o Reino de Deus é global e baseado na fé, não em herança étnica” (SPROUL, 2010, p. 195).

Por que Jesus cura a sogra de Pedro? (Mateus 8.14–15)

Na casa de Pedro, Jesus encontra a sogra dele com febre. Ele a toca, e imediatamente ela é curada (v. 15). Mais uma vez, o toque de Jesus comunica restauração. A mulher, em gratidão, se levanta e passa a servi-lo.

Este detalhe é importante: a cura leva ao serviço. Hendriksen observa que “a resposta adequada ao toque restaurador de Cristo é o serviço dedicado a Ele” (HENDRIKSEN, 2001, p. 440).

Como Mateus conecta os milagres à profecia de Isaías? (Mateus 8.16–17)

À noite, muitos endemoninhados e doentes são trazidos a Jesus. Com apenas uma palavra, Ele os liberta e cura (v. 16). Mateus interpreta isso à luz de Isaías 53.4: “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (v. 17).

Esse versículo revela o caráter messiânico de Cristo: Ele não apenas remove o pecado, mas assume sobre si as consequências do mundo caído, incluindo as doenças.

Sproul destaca: “Jesus cumpre Isaías, não só ao morrer, mas também ao agir com compaixão e poder sobre o sofrimento humano” (SPROUL, 2010, p. 198).

Por que o discipulado exige renúncia? (Mateus 8.18–22)

Jesus vê as multidões e decide atravessar o mar (v. 18). Um mestre da lei se oferece para segui-lo, mas Jesus responde: “O Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (v. 20). O discipulado exige disposição para abrir mão de conforto e segurança.

Outro homem deseja segui-lo, mas antes precisa sepultar o pai. Jesus responde de forma direta: “Siga-me, e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (v. 22). O chamado de Cristo é prioritário.

Hendriksen explica que “Jesus não desvaloriza o luto, mas destaca que nada deve impedir a obediência imediata ao Reino” (HENDRIKSEN, 2001, p. 442).

Como Jesus revela Seu poder sobre a natureza? (Mateus 8.23–27)

No barco, uma tempestade ameaça os discípulos. Jesus, surpreendentemente, dorme (v. 24). Diante do pânico dos discípulos, Ele se levanta, repreende os ventos e o mar, e faz-se completa bonança (v. 26).

O espanto dos discípulos revela o ponto central: “Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (v. 27). A resposta implícita: Ele é o Senhor da criação, o próprio Deus encarnado, como também vemos em João 1.

O que aprendemos com o encontro com os endemoninhados? (Mateus 8.28–34)

Na região dos gadarenos, dois homens possuídos por demônios vivem entre os sepulcros, aterrorizando a população. Quando veem Jesus, reconhecem Sua identidade: “Que queres conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?” (v. 29).

Os demônios temem o juízo futuro. Eles suplicam para serem enviados aos porcos. Jesus permite, e a manada se precipita no mar (v. 32). Os moradores, ao saberem do ocorrido, pedem que Jesus vá embora (v. 34).

Sproul observa que “a santidade e o poder de Cristo incomodam os que estão mais preocupados com seus bens do que com a salvação” (SPROUL, 2010, p. 222).

Como Mateus 8 cumpre as profecias do Antigo Testamento?

O capítulo ecoa várias profecias messiânicas:

  • Isaías 53.4: Jesus tomou sobre si as enfermidades, cumprindo Seu papel como Servo Sofredor.
  • O poder sobre a natureza remete a Salmos que exaltam Deus como Aquele que domina os mares, como em Salmos 89.9.
  • A libertação dos endemoninhados demonstra a vitória do Messias sobre o reino das trevas, antecipando o juízo final descrito em Apocalipse 20.

Cada milagre e cada detalhe revelam o Messias prometido, aquele que cumpre as promessas feitas ao povo de Deus.

Quais lições espirituais e aplicações práticas tiramos de Mateus 8?

Ao ler Mateus 8, eu percebo que o poder de Jesus não está limitado a palavras, mas se manifesta em ações concretas:

  • Jesus toca o impuro e o restaura.
  • Jesus responde à fé, mesmo vinda de um gentio.
  • Jesus cura e transforma, gerando gratidão e serviço.
  • Jesus chama para o discipulado, mas sem promessas de conforto.
  • Jesus domina a natureza e revela Seu senhorio.
  • Jesus confronta o mundo espiritual e liberta os oprimidos.

Esse texto me desafia a confiar na Palavra de Cristo, mesmo quando a tempestade parece fora de controle. Também me ensina que seguir Jesus exige renúncia. E, acima de tudo, lembra-me que o Reino de Deus não está restrito a um grupo étnico ou social. Ele é para todos os que creem.

Conclusão

Mateus 8 não é apenas um registro de milagres — é uma revelação do Messias em ação. Cada cura, cada palavra, cada gesto de Jesus aponta para Sua identidade divina e para o avanço do Reino.

Ao ver o poder de Cristo sobre doenças, natureza e demônios, sou convidado a reconhecê-lo como Senhor da minha vida. Mesmo hoje, Ele continua dizendo: “Siga-me”. A questão é se estamos dispostos a deixá-lo conduzir, mesmo que isso custe nosso conforto.

O Rei está presente. Ele cura, restaura e salva. Mas também confronta e exige obediência. Que possamos, como o centurião e o leproso, reconhecer Sua autoridade e nos render a Ele.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 7 Estudo: Sermão da Montanha (Parte 3)

Mateus - Bíblia de Estudo Online

Mateus 7 encerra o Sermão do Monte, o discurso mais conhecido e impactante de Jesus. Ele foi pronunciado na Galileia, próximo ao mar, em um monte onde multidões o seguiam. O Evangelho de Mateus foi escrito, provavelmente, entre os anos 50 e 60 d.C., dirigido especialmente a judeus convertidos, para apresentar Jesus como o Messias prometido.

Aqui, Jesus revela o padrão de vida do Reino de Deus, totalmente diferente dos padrões humanos e religiosos da época. No capítulo 7, ele conclui seu ensino abordando o juízo, a oração, o discernimento e o perigo do falso discipulado.

Como destaca William Hendriksen, Jesus encerra o Sermão do Monte com uma série de contrastes que exigem decisão pessoal: “Os que falam versus os que fazem, os que ouvem versus os que praticam, o caminho largo versus o estreito, os falsos profetas versus os verdadeiros discípulos” (HENDRIKSEN, 2001, p. 464).

Mateus também apresenta a autoridade singular de Jesus. Ao contrário dos escribas, que ensinavam baseados em tradições humanas, Jesus fala com autoridade divina, como o próprio Filho de Deus, o Messias prometido.

O que Jesus ensina sobre o julgamento? (Mateus 7.1–6)

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O famoso versículo “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (v. 1) é frequentemente mal interpretado. Não se trata de proibir o discernimento ou a avaliação do certo e do errado, mas sim de condenar o espírito hipócrita e condenatório.

R. C. Sproul explica que o termo “julgar” aqui carrega o sentido jurídico de emitir um veredicto final de condenação. Ou seja, Jesus não proíbe o discernimento, mas sim o julgamento condenatório e arrogante (SPROUL, 2017, p. 163).

Jesus usa uma metáfora forte: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” (v. 3). Ele condena o espírito crítico que vê pequenos defeitos nos outros enquanto ignora os próprios pecados graves.

Por outro lado, no versículo 6, Jesus ensina a necessidade de discernimento espiritual: “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos”. Aqui, cães e porcos representam pessoas hostis e endurecidas ao Evangelho. Isso exige que o cristão saiba avaliar o coração das pessoas antes de expor verdades profundas da fé.

Esse equilíbrio entre misericórdia e discernimento aparece também em Mateus 10, quando Jesus orienta os discípulos a sacudir o pó dos pés diante dos que rejeitam o Evangelho.

O que Jesus revela sobre a oração? (Mateus 7.7–12)

O convite à oração é um dos pontos altos do capítulo: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (v. 7). Jesus revela a generosidade do Pai celestial, contrastando-a com as limitações humanas.

Ele usa a imagem familiar do pai terreno: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus” (v. 11). Aqui aprendemos que podemos nos aproximar de Deus com confiança, sabendo que Ele cuida de nós.

No entanto, como observa Sproul, esse texto não deve ser interpretado como uma fórmula mágica para receber tudo o que pedimos. O contexto exige que o pedido esteja alinhado com a vontade de Deus (SPROUL, 2017, p. 169).

O ensino culmina com a Regra de Ouro: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (v. 12). Jesus resume aqui toda a ética relacional do Reino, mostrando que o amor ao próximo concretiza a verdadeira espiritualidade.

Por que Jesus fala sobre a porta estreita? (Mateus 7.13–14)

Jesus faz um alerta solene: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela” (v. 13). A imagem das duas portas e dois caminhos mostra que o discipulado autêntico é exigente e impopular.

Hendriksen destaca que a porta estreita representa a fé em Cristo e o caminho apertado representa a vida de obediência, marcada por renúncia e fidelidade (HENDRIKSEN, 2001, p. 467).

Em contraste, o caminho largo e a porta espaçosa são agradáveis à carne, tolerantes com o pecado e atrativos à maioria, mas levam à perdição.

O ensino de Jesus aqui ecoa o que Ele afirma em João 14.6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”.

Como identificar os falsos profetas? (Mateus 7.15–20)

Jesus adverte contra os falsos profetas, que se disfarçam de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Eles enganam com aparência de piedade, mas suas intenções são destrutivas.

O critério para discerni-los é simples: “Vocês os reconhecerão por seus frutos” (v. 16). O caráter e as obras revelam a verdadeira natureza das pessoas. Como nas árvores, bons frutos vêm de árvores boas; frutos ruins, de árvores corruptas.

Sproul ressalta que, muitas vezes, os falsos mestres podem pregar verdades parciais e até realizar sinais, mas o fruto final é divisão, imoralidade e afastamento da sã doutrina (SPROUL, 2017, p. 174).

Isso reforça a importância de julgar com discernimento, não com condenação, como Jesus ensinou nos primeiros versículos do capítulo.

Por que nem todo religioso entrará no Reino? (Mateus 7.21–23)

Talvez o trecho mais assustador de Mateus 7 seja este: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai” (v. 21).

Jesus revela que haverá pessoas que, no dia do juízo, se apresentarão diante dele com um currículo impressionante de obras religiosas, incluindo profecias, expulsão de demônios e milagres. No entanto, ouvirão: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (v. 23).

Hendriksen destaca que o problema desses indivíduos não está em suas palavras ou obras externas, mas na falta de uma vida de obediência e submissão a Deus (HENDRIKSEN, 2001, p. 469).

Sproul acrescenta que o perigo da falsa segurança religiosa é real. Muitos se iludem com atividades externas, mas nunca se renderam ao senhorio de Cristo em seu coração (SPROUL, 2017, p. 178).

Esse ensino ecoa o que Jesus diz em João 10, sobre conhecer suas ovelhas pelo relacionamento íntimo, e não por aparência.

Qual o significado da parábola dos dois construtores? (Mateus 7.24–27)

Jesus conclui o Sermão do Monte com uma parábola prática e profunda: dois homens constroem casas, mas um sobre a rocha, outro sobre a areia. As tempestades vêm, e só a casa sobre a rocha permanece.

A rocha representa Cristo e seus ensinamentos. Quem ouve e pratica as palavras de Jesus constrói sua vida sobre fundamento firme. Quem ouve, mas não pratica, constrói sobre base frágil.

Sproul lembra que as tempestades representam tanto as dificuldades da vida quanto o juízo final. Somente quem edifica sobre Cristo permanecerá (SPROUL, 2017, p. 183).

Essa imagem se conecta ao que Paulo ensina em 1 Coríntios 3.11: “Ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo”.

Como as multidões reagiram ao ensino de Jesus? (Mateus 7.28–29)

O capítulo termina revelando o impacto das palavras de Jesus: “As multidões estavam maravilhadas com o seu ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da lei” (v. 28–29).

Hendriksen destaca que essa autoridade não vinha apenas do tom ou da retórica, mas da própria identidade de Jesus como o Filho de Deus, o cumprimento das promessas messiânicas (HENDRIKSEN, 2001, p. 473).

Sproul complementa que a autoridade de Jesus ainda hoje confronta o ser humano, exigindo decisão entre o caminho estreito e o largo, entre o falso discipulado e o genuíno (SPROUL, 2017, p. 186).

Conclusão

Mateus 7 é um chamado à autenticidade espiritual. Jesus confronta a religiosidade superficial, o julgamento hipócrita e o falso discipulado. Ele nos convida a construir a vida sobre a rocha firme da obediência a Ele, a buscar a Deus com confiança, a exercer discernimento e a trilhar o caminho estreito da salvação.

Ao ler esse capítulo, eu sou desafiado a examinar meu coração. Não basta chamar Jesus de Senhor; é preciso segui-lo de verdade. A verdadeira segurança está em conhecê-lo e ser conhecido por Ele.

Assim como Jesus encerrou o sermão com autoridade, hoje Ele ainda nos chama a escolher o caminho da vida. Essa escolha determina não apenas o presente, mas o destino eterno.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 6 Estudo: Sermão da Montanha (Parte 2)

Mateus 6 Estudo: Sermão da Montanha – Parte 2

Jesus começa este trecho do Sermão do Monte nos alertando sobre um perigo sutil: transformar a fé em espetáculo. Ele diz: “Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles” (Mateus 6.1, NVI).

Ao ler isso, eu me lembro como nosso coração, muitas vezes, deseja reconhecimento. Seja num post nas redes sociais, seja num elogio na igreja, o aplauso humano pode se tornar um vício.

William Hendriksen explica que aqui, “obras de justiça” se refere a atos de devoção como esmolas, orações e jejuns (HENDRIKSEN, 2001, p. 362). Jesus não condena esses atos em si, mas a motivação errada.

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Os fariseus, por exemplo, faziam questão de mostrar sua generosidade. Tocavam literalmente trombetas para anunciar suas esmolas. Mas Jesus é direto: “Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa” (Mateus 6.2).

Ou seja, o reconhecimento dos homens é tudo o que terão. Nada de aprovação divina. Nada de tesouros eternos. Essa é a mesma realidade que aparece em Mateus 5, onde Jesus ensina que o Reino de Deus se manifesta em atitudes humildes e sinceras.

Por isso, Ele nos orienta: “Quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita” (Mateus 6.3). É uma metáfora forte. Significa agir com tanta discrição e simplicidade que nem mesmo nós mesmos ficamos vangloriados com o que fazemos.

Eu confesso que isso me confronta. Às vezes, fazemos algo bom e logo queremos contar para alguém. Mas Jesus ensina outro caminho: o da devoção escondida, vista apenas por Deus.

R. C. Sproul destaca que “Deus não se impressiona com gestos públicos que nascem de corações orgulhosos, mas Se agrada daquilo que fazemos em segredo, movidos por amor” (SPROUL, 2010, p. 98).

Esse princípio vale para ofertas, mas também para qualquer expressão da nossa fé. O que conta para Deus é o coração.

Como deve ser a oração de quem realmente conhece a Deus? (Mateus 6.5–15)

Depois de falar sobre generosidade, Jesus aborda outro pilar da vida cristã: a oração. Mas, novamente, Ele denuncia o erro de transformar algo sagrado em show.

“E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas” (Mateus 6.5). Eles gostavam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas para serem vistos. Era um teatro, e o público aplaudia. Mas, mais uma vez, Jesus lembra: “Eles já receberam sua plena recompensa” (Mateus 6.5).

A verdadeira oração não precisa de plateia. Jesus ensina: “Vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto” (Mateus 6.6).

Eu gosto de imaginar esse momento. Um lugar simples, silencioso. Só eu e Deus. É ali que a oração encontra seu valor. Não é o volume da nossa voz nem o vocabulário bonito que impressionam o Senhor. É a sinceridade.

Jesus também nos alerta sobre as repetições vazias: “Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos” (Mateus 6.7). Não há necessidade de discursos longos ou palavras decoradas. Deus já sabe o que precisamos (Mateus 6.8).

A seguir, Jesus nos dá o modelo perfeito: a Oração do Pai Nosso. Cada frase revela um princípio profundo:

  • “Pai nosso, que estás nos céus” – Reconhecemos quem Deus é.
  • “Santificado seja o teu nome” – Almejamos que Ele seja honrado.
  • “Venha o teu Reino” – Desejamos a soberania de Deus aqui e agora.
  • “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” – Confiamos em Sua provisão diária.
  • “Perdoa as nossas dívidas” – Reconhecemos nossa necessidade de perdão.
  • “Não nos deixes cair em tentação” – Clamamos por livramento.

Esse ensino se conecta diretamente com o que o apóstolo Paulo também destaca em Filipenses 4, onde aprendemos a apresentar nossos pedidos com gratidão, confiando na paz que excede o entendimento.

Hendriksen afirma que o Pai Nosso não é apenas uma oração para ser recitada, mas “um esboço de princípios que devem moldar nossa vida de oração” (HENDRIKSEN, 2001, p. 370).

Jesus conclui o ensino com um lembrete essencial: o perdão. “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará” (Mateus 6.14). Isso mostra que oração verdadeira transforma o coração. E um coração transformado perdoa.

Por que o jejum é uma prática esquecida, mas poderosa? (Mateus 6.16–18)

Hoje, pouco se fala sobre jejum. Mas Jesus o inclui entre as práticas fundamentais da fé.

Ele diz: “Quando jejuarem” (Mateus 6.16). Não é “se”, é “quando”. Ou seja, o jejum deve fazer parte da vida cristã. O problema, novamente, é a ostentação. Os fariseus jejuavam e logo mudavam o rosto, faziam cara de sofridos. Era outro show religioso.

Jesus é claro: “Eles já receberam sua plena recompensa” (Mateus 6.16).

O jejum verdadeiro não busca chamar atenção. Jesus ensina: “Ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto” (Mateus 6.17). Ou seja, cuide da aparência. Ninguém precisa saber o que você está fazendo. Só o Pai, que vê no secreto.

Sproul ressalta que o jejum bíblico é uma forma de dizer a Deus: “Minha fome espiritual é maior do que meu desejo físico” (SPROUL, 2010, p. 102).

Esse princípio ecoa o que aprendemos em Isaías 58, onde Deus mostra que o jejum verdadeiro não é apenas deixar de comer, mas buscar justiça, misericórdia e arrependimento.

Eu já vivi momentos assim. Em dias difíceis, o jejum se torna um grito silencioso da alma, clamando por direção, por socorro. E, como Jesus prometeu, o Pai vê e recompensa.

Por que acumular tesouros na terra é um engano perigoso? (Mateus 6.19–21)

Jesus continua Seu ensino e toca em algo que mexe com todos nós: o dinheiro. Ele diz: “Não acumulem para vocês tesouros na terra” (Mateus 6.19). Parece radical, mas faz todo sentido.

Afinal, tudo o que ajuntamos aqui está sujeito à traça, à ferrugem, aos ladrões. Basta olhar para o noticiário para ver como bens materiais podem sumir de uma hora para outra.

Quando leio isso, me lembro de Eclesiastes 5, onde Salomão diz que quem ama o dinheiro nunca se satisfaz. É um poço sem fundo.

Jesus nos convida a olhar para cima: “Acumulem para vocês tesouros no céu” (Mateus 6.20). O que fazemos aqui por amor a Deus e ao próximo tem valor eterno.

William Hendriksen explica que os “tesouros no céu” incluem boas obras, generosidade, intercessão e tudo o que fazemos para a glória de Deus (HENDRIKSEN, 2001, p. 377).

E o mais interessante é a conexão direta entre o nosso coração e aquilo em que investimos: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6.21).

Se o que mais valorizamos é dinheiro, sucesso ou status, nosso coração se inclina para isso. Mas se buscamos o Reino, nosso coração se apega a Deus. É o que Jesus já ensinou em Mateus 5.3: “Bem-aventurados os pobres em espírito”, aqueles que dependem totalmente do Senhor.

Como a maneira de olhar a vida afeta tudo em nós? (Mateus 6.22–23)

Jesus segue com uma metáfora poderosa: “Os olhos são a candeia do corpo” (Mateus 6.22). Ou seja, aquilo que direciona o nosso olhar influencia todo o nosso ser.

Se os olhos forem bons, ou seja, generosos, puros, voltados para o bem, todo o corpo será iluminado. Mas, se os olhos forem maus — egoístas, invejosos, gananciosos —, haverá trevas.

Eu já percebi isso em mim mesmo. Quando meu olhar se contamina com comparação, cobiça ou ingratidão, o coração se fecha, o ânimo vai embora. Mas quando escolho olhar com fé e contentamento, tudo parece mais leve.

Sproul afirma que aqui, Jesus nos lembra que “a maneira como enxergamos a vida e os outros revela se pertencemos à luz ou às trevas” (SPROUL, 2010, p. 105).

Essa verdade se conecta com o que o apóstolo João escreve em 1 João 2.16: os desejos dos olhos podem nos afastar de Deus. Por isso, precisamos vigiar o que alimenta o nosso olhar.

Por que é impossível servir a dois senhores? (Mateus 6.24)

Jesus encerra essa parte do ensino com uma declaração que corta como espada: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6.24).

É impossível tentar agradar a Deus e ao Dinheiro ao mesmo tempo. Cedo ou tarde, precisaremos escolher. Ou amaremos um e rejeitaremos o outro.

Eu já vivi esse conflito. Quando tentamos agradar a todos ou buscar sucesso a qualquer custo, a fé começa a enfraquecer. O coração se divide. E como Jesus deixa claro, isso não funciona.

Hendriksen observa que “o Dinheiro, aqui personificado como Mamom, se torna um ídolo quando assume o lugar de Deus em nossas prioridades” (HENDRIKSEN, 2001, p. 379).

Por isso, precisamos vigiar. O dinheiro é útil, sim. Mas quando vira senhor, vira prisão. O verdadeiro Senhor é Cristo. E só Ele pode dar sentido e paz à nossa vida.

Por que se preocupar não resolve nada? (Mateus 6.25–27)

Jesus sabe que o medo do amanhã rouba nossa paz. Por isso, Ele nos diz: “Não se preocupem com suas próprias vidas” (Mateus 6.25).

Eu confesso: isso não é fácil. Somos tentados o tempo todo a nos inquietar com contas, futuro dos filhos, saúde, segurança. Mas Jesus nos lembra que a vida é muito mais do que comida ou roupa.

Ele nos convida a olhar para as aves do céu. Elas não plantam, não colhem, não estocam, e ainda assim, Deus as alimenta. É impossível não lembrar do que está escrito em Salmos 145.15–16: “Todos esperam em ti, e tu lhes dás o alimento no tempo certo”.

Se Deus cuida das aves, como não cuidará de nós, que somos Seus filhos? E além disso, Jesus questiona: “Quem de vocês pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” (Mateus 6.27). Ou seja, preocupar-se só cansa, mas não resolve nada.

Sproul comenta que “a ansiedade revela uma fé enfraquecida, pois ignora o cuidado providencial do Pai” (SPROUL, 2010, p. 108).

Como a natureza revela o cuidado de Deus? (Mateus 6.28–30)

Jesus nos chama a contemplar outra lição prática: os lírios do campo. Eles crescem, belos e vistosos, sem esforço, sem trabalho humano.

Ele afirma que nem mesmo Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles. Isso me faz lembrar de 1 Reis 10, quando a rainha de Sabá ficou impressionada com a riqueza e o esplendor do rei.

Mas nem o ouro de Salomão se compara à beleza simples e natural das flores, criadas e cuidadas por Deus. Se Ele faz isso com a relva do campo, que hoje existe e amanhã desaparece, imagine o quanto Ele cuida de nós.

William Hendriksen destaca que Jesus chama os discípulos de “homens de pequena fé” (Mateus 6.30) não para acusá-los, mas para despertá-los a confiar mais (HENDRIKSEN, 2001, p. 382).

Essa advertência ainda ecoa hoje. Quando me pego ansioso, sei que preciso renovar minha fé no cuidado do Pai.

Qual é a solução para as nossas preocupações? (Mateus 6.31–34)

Jesus conclui com um conselho prático e libertador: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mateus 6.33).

Não significa ignorar responsabilidades, mas reorganizar prioridades. Quando Deus e Seu Reino estão no centro, o restante encontra seu lugar. E as necessidades básicas — comida, bebida, roupa — são supridas.

Essa promessa ecoa a fidelidade de Deus demonstrada em Deuteronômio 8, quando Ele cuidou do povo no deserto.

Sproul afirma que “buscar o Reino não é uma atividade isolada, mas uma postura constante de submissão ao governo de Deus” (SPROUL, 2010, p. 110).

E Jesus termina com sabedoria prática: não se preocupe com o amanhã. Cada dia já tem seus próprios desafios.

Eu vejo isso na minha vida. Quando me concentro no hoje, consigo lidar melhor com as tarefas e preocupações. Mas quando me perco tentando resolver o que nem aconteceu ainda, só me sobrecarrego.

Jesus não nega que haverá lutas. Mas Ele garante: o Pai cuida de nós. Isso me desafia a descansar, confiar e buscar o Reino acima de tudo.

O que aprendemos com Mateus 6 hoje? (Mateus 6.1–34)

Jesus nos ensina o caminho da verdadeira espiritualidade. Não se trata de aparência, mas de sinceridade. Obras de caridade, oração e jejum não são para impressionar pessoas, mas para agradar a Deus.

O Pai vê o que fazemos em secreto. Ele conhece o nosso coração. Não adianta fazer o bem só para os outros verem. O que importa é a motivação.

Jesus também nos ensina a orar com simplicidade e fé. O Pai Nosso não é um mantra vazio, mas um modelo de intimidade com Deus. Nele, aprendemos a confiar, a perdoar e a buscar o Reino.

Além disso, o Mestre trata de algo muito atual: a ansiedade. Ele sabe que nosso coração facilmente se apega ao dinheiro e às preocupações. Mas a solução é clara: buscar o Reino em primeiro lugar.

Ao olhar para as aves e as flores, somos lembrados do cuidado do Pai. Não precisamos viver ansiosos. Deus conhece nossas necessidades e cuida de nós, como em Salmos 23, onde Ele é apresentado como o bom Pastor.

O maior tesouro não está na terra, mas no céu. Onde está o nosso coração, ali estará também nosso foco e nossa esperança.

Conclusão

Mateus 6 não é um discurso sobre regras, mas um convite à confiança. Jesus nos chama a viver para agradar o Pai, e não para buscar aplausos humanos. Ele nos ensina que a oração verdadeira é simples e sincera, que o jejum é discreto e que a vida deve ser livre da ansiedade.

Buscando o Reino, encontramos equilíbrio. Descansando no cuidado de Deus, encontramos paz. E vivendo com o coração no céu, encontramos propósito.

Ao ler este capítulo, percebo o quanto ainda preciso confiar mais. E lembro que, assim como em Mateus 11, Jesus continua dizendo: “Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 5 Estudo: Sermão da Montanha (Parte 1)

Mateus 5 Estudo

O capítulo 5 de Mateus é o início do famoso Sermão do Monte, onde Jesus revela a verdadeira ética do Reino de Deus. Esse discurso ocupa os capítulos 5, 6 e 7 e é considerado o coração do ensino de Cristo sobre o que significa ser seu discípulo.

Mateus escreve esse Evangelho entre os anos 60 e 70 d.C., com o propósito de apresentar Jesus como o Messias prometido e o verdadeiro Rei, aquele que cumpre as profecias e revela o pleno significado da Lei. O Evangelho foi direcionado, principalmente, a leitores judeus, o que fica evidente no destaque dado às promessas do Antigo Testamento e à autoridade da Lei e dos Profetas.

Jesus sobe ao monte e começa a ensinar não só seus discípulos, mas também as multidões que o seguiam. Hendriksen (2010, p. 263) observa que essa cena remete diretamente a Moisés no Monte Sinai. Assim como Moisés recebeu a Lei para o povo de Israel, agora Jesus, o novo e maior Moisés, apresenta a verdadeira interpretação e cumprimento da Lei.

R. C. Sproul (2017, p. 59) destaca que o Sermão do Monte não é um código moral genérico, mas um chamado radical para viver de acordo com os padrões de Deus, algo impossível sem a graça transformadora do Espírito Santo. O que Jesus apresenta aqui vai muito além de um conjunto de regras. É o retrato da vida daqueles que foram regenerados e pertencem ao Reino dos céus.

Esse discurso confronta diretamente o legalismo dos fariseus e as interpretações distorcidas que haviam tomado conta da religião judaica. O Reino que Jesus anuncia começa no coração, com transformação interior, e não em mudanças externas ou políticas, como muitos esperavam.

O que o texto de Mateus 5 ensina?

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O que são as Bem-aventuranças? (Mateus 5.1–12)

O texto começa dizendo:

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos céus…” (Mateus 5.1-3, NVI).

Aqui, Jesus apresenta as Bem-aventuranças, conhecidas também como beatitudes, que são declarações de bênção espiritual sobre aqueles que fazem parte do Reino. A palavra Bem-aventurados traduz o termo grego makárioi, que, segundo Hendriksen (2010, p. 267), expressa a aprovação divina e a plenitude de vida concedidas por Deus, muito além do conceito superficial de felicidade.

Esse estilo literário de pronunciar bênçãos já aparece no Antigo Testamento. Um exemplo clássico está no início do livro de Salmos, que afirma:
“Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios…” (Salmos 1.1).

Jesus, então, descreve as qualidades que caracterizam os cidadãos do Reino: humildade de espírito, quebrantamento, mansidão, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza de coração, pacificação e perseverança sob perseguição.

R. C. Sproul (2017, p. 71) ressalta que essas qualidades não são distribuídas entre grupos diferentes de cristãos, mas devem ser vistas como o retrato completo de todos aqueles que foram transformados pela graça. As Bem-aventuranças não são apenas uma lista de virtudes, mas a descrição do caráter que Deus produz em todo aquele que pertence ao Reino dos céus.

Além disso, as promessas de consolo, herança e recompensa não são conquistas humanas, mas dádivas da graça. O Reino é concedido àqueles que reconhecem sua pobreza espiritual, e o consolo vem para aqueles que choram por seus pecados.

Qual o papel do cristão como sal e luz? (Mateus 5.13–16)

Logo após as Bem-aventuranças, Jesus afirma:

“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo…” (Mateus 5.13-14, NVI).

O sal, na Palestina do primeiro século, tinha funções essenciais. Ele preservava os alimentos contra a deterioração e também realçava o sabor. Hendriksen (2010, p. 274) explica que o cristão deve ter esse mesmo papel no mundo: preservar o que é bom, combater a corrupção moral e espiritual e trazer sabor, ou seja, relevância e valor, à vida neste mundo.

A metáfora do sal também remete ao Antigo Testamento, onde o sal era usado em algumas ofertas, simbolizando a pureza e o pacto com Deus. Essa referência aparece, por exemplo, em Levítico 2, que ordenava: “Todas as tuas ofertas de cereais temperarás com sal”.

Ser luz, por outro lado, é o chamado para viver de modo visível, refletindo o caráter e a verdade de Deus em meio às trevas espirituais deste mundo. Sproul (2017, p. 90) lembra que, assim como a lua reflete a luz do sol, nós refletimos a luz de Cristo. Esse ensino está alinhado com o que o próprio Jesus afirma em João 8, quando declara:
“Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8.12).

Quando Jesus diz que seus discípulos são a luz do mundo, ele não está exaltando o brilho próprio deles, mas o fato de que a luz de Cristo, refletida neles, deve ser visível para todos. Essa luz se manifesta por meio das boas obras, que devem ser vistas, não para a glória pessoal, mas para que Deus seja glorificado.

Jesus veio abolir ou cumprir a Lei? (Mateus 5.17–20)

Jesus deixa claro seu propósito ao dizer:

“Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5.17, NVI).

Sproul (2017, p. 99) afirma que essa é uma das declarações mais importantes sobre a autoridade da Escritura. Jesus não anula a Lei. Pelo contrário, ele cumpre, revela e vive perfeitamente o que Deus ordenou, mostrando o verdadeiro significado dos mandamentos.

Hendriksen (2010, p. 279) explica que cumprir aqui não significa invalidar, mas levar à plenitude. A Lei e os Profetas apontavam para o Messias, e agora, em Cristo, todas as promessas e exigências da Lei encontram sua realização. Isso inclui tanto o cumprimento das profecias quanto a perfeita obediência à Lei moral.

Nos versos seguintes, Jesus condena as interpretações distorcidas dos fariseus, que se apegavam às aparências e desprezavam o espírito da Lei. A verdadeira justiça do Reino não é apenas externa, mas interior, e precisa exceder a justiça dos escribas e fariseus.

Esse padrão elevado de justiça não é algo que conquistamos por mérito próprio, mas resultado da transformação operada pelo Espírito Santo, conforme Deus prometeu em Ezequiel 36:
“Dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo” (Ezequiel 36.26).

O que Jesus ensina sobre o homicídio? (Mateus 5.21–26)

Jesus prossegue aprofundando o significado da Lei ao dizer:

“Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’, e: ‘Quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento.” (Mateus 5.21-22, NVI).

Aqui, Cristo não está revogando o mandamento do Antigo Testamento, mas mostrando sua verdadeira profundidade. Hendriksen (2010, p. 285) explica que Jesus está corrigindo a interpretação superficial dos rabinos, que restringiam o mandamento apenas ao ato físico de tirar a vida. No entanto, o Senhor revela que o pecado começa muito antes, no coração.

A ira injusta, o desprezo, as ofensas e até mesmo as palavras duras contra o próximo são violações do espírito da Lei. R. C. Sproul (2017, p. 106) afirma que o mandamento não proíbe apenas o homicídio literal, mas tudo o que ameaça a vida ou fere a dignidade do ser humano criado à imagem de Deus.

Essa compreensão está alinhada com o ensino de Gênesis 1, que apresenta o ser humano como portador da imagem divina, o que confere valor e dignidade à vida.

Além disso, Jesus destaca a importância da reconciliação. Antes de oferecer sacrifícios a Deus, devemos buscar paz com o próximo. Esse ensino reforça o princípio de que Deus valoriza relacionamentos restaurados mais do que formalidades religiosas. Essa verdade aparece de forma semelhante em 1 João 4, quando o apóstolo afirma:

“Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso…” (1 João 4.20).

O que Jesus diz sobre o adultério e a pureza? (Mateus 5.27–30)

O ensino de Jesus sobre o adultério segue o mesmo princípio:

“Ouvistes que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la já cometeu adultério com ela no coração.” (Mateus 5.27-28, NVI).

Sproul (2017, p. 112) destaca que Jesus não minimiza o pecado, mas o amplia, indo além das aparências. O pecado do adultério começa no coração, no olhar e no desejo desordenado.

Isso não significa que o olhar em si já seja o pecado, mas o olhar com intenção impura, o cultivo do desejo lascivo. Hendriksen (2010, p. 290) reforça que Cristo denuncia a raiz do pecado, mostrando que o verdadeiro padrão de pureza exige domínio dos pensamentos e desejos, não apenas do comportamento exterior.

Essa visão está em harmonia com o que o apóstolo Paulo ensina em 1 Coríntios 6, quando afirma que o corpo do cristão é templo do Espírito Santo e, por isso, deve ser preservado da imoralidade.

Por fim, Jesus usa uma linguagem forte e figurada ao dizer:

“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora…” (Mateus 5.29).

Hendriksen (2010, p. 291) explica que essa é uma hipérbole típica da linguagem judaica, não um convite literal à automutilação, mas um chamado radical para eliminar qualquer fonte de pecado em nossa vida. Jesus mostra que, diante da pureza, nenhum sacrifício é grande demais.

O apóstolo Paulo retoma esse princípio em Colossenses 3, onde diz:

“Mortifiquem os membros do corpo que pertencem à terra: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância…” (Colossenses 3.5).

O que Jesus ensina sobre o divórcio? (Mateus 5.31–32)

Jesus segue aprofundando a compreensão da Lei ao dizer:

“Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz com que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério.” (Mateus 5.31-32, NVI).

Na cultura judaica, conforme explica Hendriksen (2010, p. 293), o divórcio havia se tornado algo fácil e banal, especialmente entre os homens. Bastava entregar uma certidão e o casamento estava desfeito. O ensino de Moisés em Deuteronômio 24 havia sido deturpado, transformando algo que era exceção em uma prática comum.

Jesus, porém, resgata o propósito original de Deus para o casamento, como registrado em Gênesis 2, onde homem e mulher são unidos por Deus e se tornam “uma só carne”. O divórcio, segundo Cristo, só se justifica em caso de infidelidade, e mesmo assim, não é obrigatório.

Sproul (2017, p. 114) destaca que Jesus condena o espírito leviano em relação ao casamento, chamando seu povo à fidelidade e ao compromisso, algo que ecoa o padrão elevado de santidade e responsabilidade nas relações.

O que Jesus ensina sobre juramentos? (Mateus 5.33–37)

Em seguida, Jesus aborda os juramentos, dizendo:

“Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez ao Senhor’. Mas eu lhes digo: não jurem de forma alguma…” (Mateus 5.33-34, NVI).

Esse ensino não é uma condenação absoluta de todo e qualquer juramento. Hendriksen (2010, p. 294) e Sproul (2017, p. 116) explicam que Jesus está criticando a prática comum de usar juramentos como recurso para sustentar a mentira ou enganar os outros. Os fariseus criaram distinções absurdas entre tipos de juramentos, como se alguns pudessem ser quebrados sem culpa.

Cristo vai além da formalidade e atinge o coração da questão: o cristão deve ser conhecido por sua sinceridade e integridade. Um simples “sim” ou “não” deve bastar. Esse princípio está alinhado com o ensino de Tiago 5, onde o apóstolo diz:

“Acima de tudo, meus irmãos, não jurem, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra coisa. Seja o sim de vocês, sim, e o não, não, para que não caiam em condenação.” (Tiago 5.12).

Na prática, Jesus nos convida a uma vida de transparência e verdade, onde nossas palavras sejam dignas de confiança, sem necessidade de reforços externos.

Como Jesus transforma o conceito de vingança? (Mateus 5.38–42)

Jesus afirma:

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra…” (Mateus 5.38-39, NVI).

A famosa expressão “olho por olho” (cf. Êxodo 21) fazia parte da legislação do Antigo Testamento, estabelecendo limites para punições e impedindo excessos. Hendriksen (2010, p. 295) destaca que essa lei tinha caráter jurídico, aplicada por autoridades, não por indivíduos em busca de vingança pessoal.

Jesus, porém, vai além do princípio jurídico e aponta para a ética do Reino de Deus, onde o discípulo é chamado a abdicar de sua sede por revanche. Sproul (2017, p. 118) explica que Jesus não está abolindo o sistema de justiça, mas ensinando que, em nossas relações pessoais, devemos responder ao mal com generosidade e paciência.

O chamado para “dar a outra face” ou “caminhar a segunda milha” (v. 41) não incentiva a passividade diante de injustiças sociais ou abuso, mas revela um coração livre do desejo de retribuição egoísta. É a mesma atitude de Cristo diante de seus algozes, conforme vemos em 1 Pedro 2:

“Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça.” (1 Pedro 2.23).

Essa postura contracultural revela o caráter do Reino e nos diferencia num mundo marcado pelo ódio e pela disputa.

O que significa amar os inimigos? (Mateus 5.43–48)

Na parte final do capítulo, Jesus eleva ainda mais o padrão:

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem…” (Mateus 5.43-44, NVI).

Hendriksen (2010, p. 297) observa que, embora o mandamento para amar o próximo estivesse claro na Lei (Lv 19.18), a tradição rabínica distorceu o ensino, adicionando a ideia de odiar os inimigos.

Jesus, porém, resgata o amor em sua forma mais sublime: o amor que não depende do mérito do outro, mas reflete o caráter de Deus. Afinal, como afirma Jesus:

“Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mateus 5.45, NVI).

Sproul (2017, p. 120) destaca que esse amor não é sentimento superficial, mas uma disposição ativa de fazer o bem, inclusive àqueles que nos ferem. Tal amor revela que somos, de fato, filhos de Deus, pois imitamos seu caráter gracioso.

O chamado final — “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste” (v. 48) — não significa perfeição absoluta aqui e agora, mas uma busca sincera pela maturidade espiritual, moldados pelo exemplo e pela graça de Cristo (cf. Filipenses 3).

O que aprendemos com Mateus 5 hoje? (Mateus 5.1–48)

O Sermão do Monte não é um ideal inatingível, mas o retrato da vida no Reino de Deus. Jesus não veio apenas para nos ensinar bons princípios — Ele veio para nos transformar por dentro.

A felicidade que Ele oferece não depende de circunstâncias externas, mas nasce de um coração humilde, arrependido e sedento de justiça. As bem-aventuranças revelam o que Deus valoriza, e nos confrontam com a verdade: o Reino pertence aos quebrantados, não aos orgulhosos.

Jesus também redefine a ética. Ele não suaviza a Lei, mas a aprofunda. Não basta evitar o homicídio ou o adultério externos — o problema começa no coração. E a solução está nEle.

Ser sal e luz significa viver de forma que o mundo perceba a diferença. Não para sermos aplaudidos, mas para que o Pai seja glorificado. A justiça do Reino não é aparente, como a dos fariseus, mas verdadeira, brotando de um coração regenerado.

O chamado é radical: amar os inimigos, perdoar, abrir mão da vingança, buscar pureza, dizer a verdade, viver em paz. Isso nos coloca contra a cultura, mas nos alinha ao caráter do Pai.

Como destaca Romanos 12, somos chamados a não nos conformar com este mundo, mas a sermos transformados pela renovação da mente. E isso começa pelas palavras de Jesus.

Conclusão

Mateus 5 não é apenas um código ético — é o manifesto do Reino. Jesus nos chama a viver de forma diferente, não por mérito próprio, mas pela graça que Ele oferece.

Ao ler este capítulo, percebo o quanto preciso de Cristo. Ele não apenas ensinou o caminho — Ele é o caminho. E cada bem-aventurança, cada mandamento, revela meu profundo anseio: ser como Ele.

A verdadeira justiça, o amor aos inimigos, a pureza de coração, a sede de justiça — tudo isso só é possível quando Cristo reina em nós. E Ele reina não só em palavras, mas na prática, no cotidiano, nas pequenas e grandes decisões.

Que ao olhar para o Sermão do Monte, eu não desista diante do padrão elevado, mas corra para os pés de Jesus, que me chama, transforma e me capacita a viver o que Ele mesmo ensinou.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 4 Estudo: como Jesus venceu as tentações?

Mateus - Bíblia de Estudo Online

Mateus 4 é um dos capítulos mais decisivos do Evangelho. Ele revela como Jesus inicia seu ministério, mas antes disso, enfrenta a tentação no deserto. Esse texto não fala apenas sobre a vitória de Cristo sobre o diabo, mas também revela seu caráter, sua missão e o cumprimento das profecias.

Logo no começo, Mateus deixa claro que Jesus não caiu por acaso no deserto. Ele foi conduzido pelo Espírito para esse confronto espiritual. O texto mostra que, antes de iniciar a pregação pública, Jesus passou por um teste semelhante ao de Adão, mas com um desfecho totalmente diferente.

Como destaca R. C. Sproul, “o contraste entre o primeiro Adão e o segundo Adão, Jesus, fica evidente no deserto. Onde Adão falhou em um jardim, Jesus venceu em um deserto” (SPROUL, 2017, p. 41).

Esse capítulo é um divisor de águas: o Messias rejeita os atalhos fáceis, afirma sua obediência a Deus e começa a pregar sobre o Reino dos céus. Vamos entender cada parte com profundidade.

Por que o deserto é tão importante na tentação de Jesus? (Mateus 4.1–2)

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“Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (v. 1). Essa cena não aconteceu por acaso. Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto. O próprio Deus permitiu esse cenário difícil para um propósito específico: mostrar que o Filho era fiel e digno de cumprir sua missão.

William Hendriksen destaca que “a ida de Jesus ao deserto era parte do plano de Deus. Ali, ele seria testado, mas também mostraria sua total obediência” (HENDRIKSEN, 2001, p. 221).

O deserto tem um significado profundo nas Escrituras. Foi lá que o povo de Israel caminhou quarenta anos antes de entrar na Terra Prometida (Números 14). Também foi no deserto que Deus testou o coração do seu povo. Agora, o novo Israel, representado em Jesus, também enfrenta o deserto — mas com um resultado muito diferente.

Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, Jesus teve fome. Sua humanidade está exposta aqui. Ele não usou seu poder divino para evitar o sofrimento. Isso me faz lembrar que seguir a Deus não nos livra dos desertos, mas nos fortalece neles.

Como o diabo tentou distorcer a identidade de Jesus? (Mateus 4.3–4)

O tentador se aproxima e provoca: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). É curioso perceber que a tentação não começa com algo escandaloso. Satanás sugere algo aparentemente inofensivo: satisfazer uma necessidade básica.

O problema não estava em comer pão, mas em quebrar a dependência do Pai. Jesus responde com as Escrituras: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (v. 4). Ele cita Deuteronômio 8.3, lembrando que o verdadeiro sustento vem de Deus.

Eu aprendo aqui que as tentações nem sempre são óbvias. Muitas vezes, elas se escondem em decisões aparentemente razoáveis, mas que nos afastam da dependência de Deus. Em momentos de escassez, nossa maior necessidade não é material — é espiritual.

Por que Jesus rejeitou o uso distorcido da Bíblia? (Mateus 4.5–7)

Na segunda investida, o diabo usa a própria Bíblia. Ele leva Jesus ao ponto mais alto do templo e cita o Salmo 91: “Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito…” (v. 6). Satanás conhece as Escrituras, mas as usa fora de contexto.

Jesus não cai na armadilha. Ele responde: “Também está escrito: Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus” (v. 7). Jesus ensina que a verdadeira fé não precisa de testes imprudentes. Confiar em Deus não significa agir de forma irresponsável.

R. C. Sproul observa que “a melhor defesa contra o uso distorcido da Bíblia é a própria Bíblia, corretamente interpretada” (SPROUL, 2017, p. 45). Isso me desafia a conhecer a Palavra com profundidade, para não ser enganado por interpretações superficiais ou maliciosas.

Qual foi a tentação final e o que estava em jogo? (Mateus 4.8–11)

Na terceira tentativa, o diabo revela sua verdadeira intenção. Ele oferece todos os reinos do mundo em troca de adoração: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar” (v. 9).

Satanás oferece um atalho para a glória sem a cruz. Mas Jesus sabe que a verdadeira exaltação passa pela obediência e pelo sofrimento. Ele ordena: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’” (v. 10).

Esse versículo me confronta. Quantas vezes, sem perceber, também busco atalhos para evitar o caminho do sacrifício? Jesus me ensina que a verdadeira vitória está em permanecer fiel, mesmo que o preço seja alto.

Como a profecia de Isaías se cumpre na Galileia? (Mateus 4.12–16)

Depois da tentação, Jesus começa seu ministério. Ao saber que João Batista foi preso, ele se retira para a Galileia, especificamente para Cafarnaum, na região de Zebulom e Naftali.

Mateus explica: “para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías” (v. 14). A citação vem de Isaías 9, onde o profeta fala sobre a chegada de uma grande luz para os que viviam em trevas.

William Hendriksen destaca que “a presença de Jesus na Galileia dos gentios já apontava para o alcance universal da salvação” (HENDRIKSEN, 2001, p. 225).

Eu acho fascinante ver como Deus cumpre as promessas, muitas vezes de formas inesperadas. O Messias não começa seu ministério em Jerusalém, mas entre povos desprezados e marginalizados. Isso mostra o alcance inclusivo do evangelho.

Para aprofundar mais sobre essa profecia, você pode ler Isaías 9.

Por que a pregação de Jesus começa com arrependimento? (Mateus 4.17)

“Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (v. 17). Com essa frase, Jesus inaugura sua pregação pública. O arrependimento não é opcional — é o primeiro passo para entrar no Reino.

O Reino dos céus não é apenas um conceito futuro. Ele já começou com a chegada de Jesus. Mas só experimenta o Reino quem se volta a Deus, reconhecendo sua necessidade de graça.

Isso me faz refletir: arrependimento não é apenas sentir remorso. É mudança de mente, atitude e direção. O Reino não chega onde o pecado é mantido como estilo de vida.

O que significa ser pescador de homens? (Mateus 4.18–22)

Ao caminhar pela beira do mar da Galileia, Jesus chama Simão, André, Tiago e João. Eles eram pescadores, homens comuns, mas o convite era extraordinário: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens” (v. 19).

Eles deixam as redes e o seguem imediatamente. Isso me impressiona. Eles largam a segurança, os negócios, os planos pessoais — tudo por causa do chamado de Cristo.

Como observa R. C. Sproul: “O chamado de Jesus é imperativo, adequado e eficaz. Ele não apenas convida, mas transforma” (SPROUL, 2017, p. 54).

Seguir Jesus ainda hoje exige coragem. Pode significar deixar zonas de conforto, velhos hábitos ou até mesmo sonhos. Mas o resultado é incomparável: participar do resgate de vidas.

Se quiser entender mais sobre o chamado dos discípulos, veja também Lucas 5.

Como Mateus 4 aponta para o cumprimento das profecias?

Mateus faz questão de mostrar que cada detalhe da vida de Jesus estava previsto nas Escrituras. Desde a tentação, que remete ao novo Adão (Romanos 5.19), até o ministério na Galileia, que cumpre Isaías 9.

O padrão se mantém: Jesus não surgiu do nada. Ele veio no tempo certo, no lugar certo e do jeito certo, como parte do plano redentor de Deus.

Isso fortalece minha confiança nas promessas bíblicas. Assim como Deus cumpriu sua palavra no passado, Ele continua fiel hoje.

O que Mateus 4 ensina para minha vida hoje?

Primeiro, me ensina que o deserto faz parte do caminho. Jesus não pulou etapas. Antes de começar o ministério, ele foi testado e aprovado. Na minha vida, o deserto não é sinal de abandono, mas de preparação.

Segundo, me mostra que as tentações sempre virão com aparência de algo bom ou necessário. Por isso, preciso conhecer e confiar na Palavra de Deus, como Jesus fez.

Terceiro, aprendo que não há atalhos para a glória. O caminho de Deus inclui obediência e, muitas vezes, renúncia. Mas vale a pena.

Por fim, sou lembrado de que o chamado de Jesus ainda ecoa: “Sigam-me”. Não importa quem eu sou ou o que faço, ele me convida a deixar as redes, confiar e segui-lo.

Conclusão

Mateus 4 não fala apenas da tentação de Jesus. Ele revela a fidelidade do Messias, o cumprimento das profecias e o início de um ministério que mudaria o mundo.

Ao ler este capítulo, percebo que o chamado de Cristo é pessoal e radical. Ele me convida a segui-lo com o coração inteiro, confiando que, mesmo nos desertos, Ele está comigo.

Que eu tenha a coragem de dizer, como os primeiros discípulos: “Sim, Senhor, eu te seguirei”.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Mateus 3 Estudo: o que o batismo de Jesus significa?

Mateus - Bíblia de Estudo Online

Mateus 3 apresenta um divisor de águas na história da redenção. Após quatrocentos anos de silêncio profético, João Batista surge no deserto, ecoando a mensagem urgente de preparação para o Reino dos céus. Sua pregação confronta, desperta e aponta diretamente para Jesus Cristo.

William Hendriksen explica que “o surgimento de João foi surpreendente: sua aparência, seu modo de viver e, principalmente, sua mensagem, que era um convite radical à conversão” (HENDRIKSEN, 2010, p. 243).

R. C. Sproul acrescenta que “João Batista foi levantado como a voz profética que quebraria o longo silêncio de Deus e prepararia o caminho para o Rei” (SPROUL, 2017, p. 30).

Como era o contexto histórico e teológico de Mateus 3?

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O pano de fundo de Mateus 3 é de profunda expectativa messiânica. Após a última profecia registrada em Malaquias 4, o povo de Israel viveu quatrocentos anos sem um profeta.

A promessa final era clara: Deus enviaria um mensageiro com a missão de preparar o caminho para o Senhor (Malaquias 3.1). Esse mensageiro surgiria “no espírito e poder de Elias” (Lucas 1.17).

Nesse cenário, João Batista aparece no deserto da Judeia, região árida e afastada das cidades. O deserto, segundo Hendriksen, “é uma metáfora viva do coração endurecido de Israel, que precisava ser transformado para receber o Messias” (HENDRIKSEN, 2010, p. 246).

Além disso, Israel estava dividido entre grupos religiosos que se apoiavam em tradições humanas. Os fariseus, defensores da lei oral, e os saduceus, aliados ao poder político e religiosos liberais, formavam a liderança de uma fé desgastada, que ignorava a verdadeira justiça de Deus.

É nesse cenário de religiosidade superficial que João proclama uma mensagem simples e poderosa: “Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo” (Mateus 3.2).

O que a pregação de João Batista revela? (Mateus 3.1–6)

João Batista pregava no deserto e dizia: “Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo” (Mateus 3.2). Essa frase carrega um peso teológico profundo. O termo “arrependimento” vai além da tristeza pelo pecado; ele exige mudança de mente, de coração e de direção.

Hendriksen afirma que “a melhor tradução para metanoeite aqui é ‘convertei-vos’, pois aponta não apenas para o abandono do pecado, mas para uma nova vida produzida pelo Espírito” (HENDRIKSEN, 2010, p. 248).

João se apresenta como o cumprimento direto de Isaías 40.3: “Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor’”. Ele é a trombeta que anuncia a chegada do Rei.

O seu modo de viver reforçava sua mensagem. Ele vestia roupas de pêlos de camelo, usava um cinto de couro e comia gafanhotos e mel silvestre. Esse estilo austero remetia ao profeta Elias e protestava contra a ostentação e a superficialidade dos líderes religiosos.

O impacto da sua pregação foi enorme. Pessoas de Jerusalém, de toda a Judeia e das regiões ao redor do Jordão vinham até ele, confessavam seus pecados e eram batizadas (Mateus 3.5-6).

O batismo, nesse contexto, era um rito chocante para os judeus. R. C. Sproul explica que “somente os gentios convertidos eram batizados; João, ao exigir o batismo dos judeus, estava dizendo que eles também eram impuros e precisavam de purificação” (SPROUL, 2017, p. 32).

Por que João Batista confrontou os fariseus e saduceus? (Mateus 3.7–10)

João viu que muitos fariseus e saduceus vinham para o batismo e os confrontou diretamente: “Raça de víboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima?” (Mateus 3.7).

Ele os chama de raça de víboras porque sabia que eles não estavam ali por arrependimento verdadeiro, mas por autoproteção e hipocrisia.

Hendriksen observa que “essas víboras pequenas e traiçoeiras, comuns no deserto da Judeia, ilustravam bem a natureza enganosa desses líderes” (HENDRIKSEN, 2010, p. 254).

João exige deles frutos que mostrem arrependimento genuíno (Mateus 3.8). Não bastava confiar na descendência física de Abraão, pois Deus poderia suscitar filhos de Abraão até mesmo das pedras.

Isso me ensina que a tradição religiosa e os privilégios familiares não garantem comunhão com Deus. É necessário arrependimento autêntico, evidenciado por uma vida transformada.

O machado já estava posto à raiz das árvores (Mateus 3.10). João estava dizendo que o juízo era iminente. O tempo da decisão havia chegado.

Quem é aquele que batiza com o Espírito Santo e com fogo? (Mateus 3.11–12)

João esclarece: “Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias” (Mateus 3.11).

Esse alguém é Jesus. João reconhece sua inferioridade diante do Messias e anuncia que o batismo de Jesus será diferente: será com o Espírito Santo e com fogo.

Sproul explica que “o batismo com o Espírito Santo aponta para a obra purificadora e capacitadora do Espírito, e o batismo com fogo aponta tanto para o juízo como para a santificação” (SPROUL, 2017, p. 35).

O fogo pode representar a purificação que acontece na vida dos salvos, como também pode representar o juízo sobre os ímpios.

João afirma que Jesus traria a pá para limpar a eira (Mateus 3.12). O trigo será recolhido no celeiro, mas a palha será queimada com fogo que nunca se apaga. Aqui vemos um retrato claro do juízo final, como lemos também em Apocalipse 20.

A urgência de João me chama a refletir sobre o estado do meu coração. Estou produzindo frutos de arrependimento ou estou confiando apenas em rótulos e tradições?

Por que Jesus quis ser batizado por João? (Mateus 3.13–15)

O batismo de Jesus pode parecer estranho à primeira vista. Afinal, se o batismo de João era para arrependimento, por que o Cordeiro sem pecado precisaria ser batizado?

João tenta impedir: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mateus 3.14).

Jesus responde: “Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça” (Mateus 3.15).

Hendriksen esclarece que “o batismo de Jesus foi um gesto de solidariedade com os pecadores, uma forma de se identificar com aqueles que ele veio salvar” (HENDRIKSEN, 2010, p. 268).

Jesus não foi batizado por causa de pecado próprio, mas para ratificar seu compromisso de cumprir toda a vontade do Pai, como também vemos em João 4.34.

Esse gesto reforça que o ministério de Jesus seria totalmente vicário: ele viveria, sofreria, morreria e ressuscitaria em favor do seu povo.

O que aconteceu no batismo de Jesus? (Mateus 3.16–17)

Assim que Jesus foi batizado e saiu da água, os céus se abriram. O Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba e uma voz do céu disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mateus 3.17).

Este é um dos momentos mais belos da Trindade revelada na Bíblia. O Filho é batizado, o Espírito desce, e o Pai declara publicamente seu prazer no Filho.

Sproul comenta que “a voz do Pai confirma que Jesus é o Messias prometido, o Servo do Senhor em quem Deus tem total prazer” (SPROUL, 2017, p. 37).

Esse episódio marca o início oficial do ministério de Jesus e aponta para a unção plena do Espírito, como também é profetizado em Isaías 61.

Além disso, o batismo de Jesus antecipa a missão de resgatar pecadores. Como R. C. Sproul ressalta, “o batismo de Jesus já aponta para a cruz, onde ele será o Cordeiro que tira o pecado do mundo” (SPROUL, 2017, p. 38).

Quais profecias foram cumpridas em Mateus 3?

O primeiro grande cumprimento é a profecia de Isaías 40.3: “Voz do que clama no deserto”. João Batista é o mensageiro que prepara o caminho para o Messias.

A profecia de Malaquias 4.5–6 também se cumpre. João veio no espírito de Elias, como Jesus mesmo confirma em Mateus 11.14.

O batismo de Jesus, com a descida do Espírito e a voz do Pai, cumpre o anúncio de Isaías 42.1: “Eis o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem tenho prazer”.

Tudo isso mostra que o plano de Deus segue uma linha precisa, que une Antigo e Novo Testamentos, e nos conduz à plenitude em Cristo, como vemos também em Apocalipse 21.

O que Mateus 3 ensina para a minha vida hoje?

Mateus 3 me ensina que Deus exige um arrependimento real, não superficial. Eu não posso confiar na tradição, na religiosidade ou no passado da minha família. O Reino dos céus exige mudança de vida.

A postura de João me desafia a viver com coragem. Ele confrontou líderes religiosos e pregou a verdade sem medo. Isso me chama a examinar meu coração: tenho medo de desagradar as pessoas ou estou disposto a anunciar o evangelho com sinceridade?

O batismo de Jesus me ensina sobre humildade. Ele, sendo o Filho de Deus, se submeteu ao batismo. Ele não precisava, mas fez isso por amor a nós.

O anúncio do Pai sobre o Filho me enche de esperança. Se Deus tem prazer no Filho, e eu estou em Cristo, então Deus me recebe e me ama com o mesmo amor.

Isso me desafia a buscar uma vida frutífera. Como João advertiu, sem frutos de arrependimento, meu cristianismo é vazio.

Finalmente, a urgência do juízo me chama a refletir: estou preparado para encontrar o Senhor? Tenho vivido como trigo ou como palha?

Conclusão

Mateus 3 marca o início do ministério de Jesus e o clímax da preparação profética para sua chegada. João Batista anuncia o Reino dos céus e clama por arrependimento urgente.

O batismo de Jesus inaugura publicamente seu ministério e revela a Trindade em perfeita harmonia. O Filho se submete, o Espírito desce e o Pai declara seu prazer.

Este capítulo me lembra que Deus cumpre suas promessas com precisão e me chama a uma vida de arrependimento, fé e frutos verdadeiros. Como em Apocalipse 3, Jesus ainda bate à porta, e cabe a cada um de nós decidir: abrir ou permanecer indiferente.

Evangelho de Mateus – Escolha o capítulo:


Referências

  • HENDRIKSEN, William. Mateus: Comentário do Novo Testamento. Tradução Valter Graciano Martins. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
  • SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. Tradução Giuliana Niedhardt Santos. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
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